Página inicial


  • Augusto um século sem à estátua pública referencial

    18/11/2014

     A recente inauguração da estátua, de corpo inteiro, em memória de Augusto dos Anjos, na Academia Paraibana de Letras, não atenua a incúria dos Poderes Municipais, responsáveis pela presença estatuária de nossos vultos nos logradouros públicos, ante a ausência, na capital, de semelhante homenagem ao “paraibano do século”, mais lido poeta brasileiro e um dos maiores do século XX.

    A despeito de tantas vezes e de longas datas implorada pela coletividade e por figuras do naipe de Gilberto Freire, Câmara Cascudo, Hildeberto Barbosa, Carlos Aranha e Gonzaga Rodrigues, a evidentes e irrecusáveis argumentos cívicos, culturais e turísticos nunca, incrivelmente, manifestou a edilidade, até hoje, passados já agora cem anos da morte do grande e inigualável bardo, o mínimo interesse de erigir o vistoso e referencial monumento, não de forma sedestre como se encontra defronte do teatro Santa Rosa, mas de pé e grandioso, principalmente digno do universal valor literário e da vertiginosa popularidade de sua obra.

    Indagar se valaria a pena a despesa pública com o pomposo monumento – assim teria de ser, sobre alto pedestal, ao panorâmico e fácil vislumbre de todo transeunte – importaria na ridícula mediocridade de se desconhecer ou, pelo menos, subestimar a dimensão artística do genial versejador e a previsível repercussão do ainda esperado empreendimento.

    Afinal, tirante qualquer idolatria paraibana, tanto pelo estilo incomum desatrelado de notórias escolas líricas como pela transcendência da temática filosófica e científica explorada pelo “singularíssimo” e melancólico vate, Augusto brilha supremo e solitário na constelação literária brasileira, com seu “Eu e outras poesias” de quase trezentas edições, desde publicado em 1912, a que dificilmente se equipara outra poesia, mesmo na história da literatura mundial. Essa a ilação de um sem número de críticos e estudiosos, por todo o país, debruçados sobre a intrigante versalhada povoada de agnosticismo e desespero.

    O aspecto mais curioso, entretanto, desse vôo às altitudes do cenário mental, é a unânime glorificação de um estro que arrebata as elites pensantes e, ao mesmo tempo, apaixona as camadas populares, onde é declamado, aos borbotões, nos mais diversos ambientes, inobstante seu visório amargo sobre a fatalidade da morte, a decomposição da humana matéria orgânica e o desdenho pelas belezas triviais da vida.

    É certo que a desídia histórico-cultural do Município, nunca vista nos berços de Castro Alves, Bilac, Gonçalves Dias e Drummond, onde se encontram perpetuados no bronze monumental, somente empobrece culturalmente a Paraíba, exacerbando-lhe as dores do sofrido e injustificado (ou justificado?) preconceito.


    Voltar