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  • Manoel da Nóbrega e um equívoco da historiografia

    29/10/2014

     Anchieta pode ter sido o maior dos místicos entre os missionários portugueses da Companhia de Jesus, mas, apesar de não figurar nas páginas da história com tal destaque, o grande vulto da catequese brasileira, no início da colonização foi, sem dúvida, o padre Manuel da Nóbrega.

    Imerecidamente relegado a segundo plano por quase toda a crítica historiográfica do colonialismo brasileiro, nenhum outro personagem, entre os missionários jesuítas de nossos primórdios civilizatórios, exerceu papel mais relevante e fundamental na construção embrionária de nossa nacionalidade.

    Tendo aqui aportado, em companhia de Tomé de Souza, em 1549, o primeiro governador-geral, foi Nóbrega não apenas o grande e incansável pregoeiro do catolicismo e da fé cristã entre os gentios do ocidente, porém, sobretudo, com seu extraordinário espírito humanitário e conciliatório, o indispensável pacificador dos conflitos, entre indígenas e colonos, ajudando, sobremais, a fundar futuras e grandes metrópoles como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo.

    O clima belicoso, no início da colonização, com a franca revolta dos índios contra as tentativas de os fazerem escravos atingira a temperatura máxima com o motim conhecido como “Confederação dos Tamoios”, formado pela aliança de várias tribos do Vale do Paraíba e, afinal, aplacado sob a liderança do notável catequista, abertamente inimigo da escravização do índio e de qualquer espoliação à raça nativa do novo mundo.

    Além da estrênua devoção ao seu ministério revelara o intrépido sacerdote, vencendo a resistência dos silvícolas, o propósito ímpar de difundir a religião reinol nas terras descobertas podendo, pelos resultados de sua obra, sem favor algum, figurar na galeria dos grandes portugueses da era dos descobrimentos, ao lado de Vasco da Gama, de Afonso de Albuquerque e do próprio Cabral.

    No Brasil, contudo, desde muito tempo, onde apenas se idolatra expoentes historicamente simbólicos, o padre Manuel da Nóbrega, tal como outros nomes esquecidos de sua íntima e precursora grandeza, permanece desprezado em lugar secundário, recoberto pelo véu do mais insulso desinteresse historiográfico ou, quando nada, em referências entremeadas na biografia de seu discípulo José de Anchieta, este sim tido e havido como o “apóstolo do Brasil”!

    Uma grave falta de reconhecimento lesiva à verdade histórica, certamente porque nada deixou escrito o missionário pioneiro senão singelas cartas aos superiores eclesiásticos de Lisboa com que dava conta do estupendo trabalho construtivo do nascente país!


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