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  • Celso Mariz - O legendário autodidata

    25/10/2014

     

    Egresso de Belém do Pará, onde residiu por influência de um irmão ali radicado, tornou-se Celso Mariz um habitual viageiro como inspetor de escolas no interior do estado, colhendo, assim, a matéria-prima para a elaboração de “Através do sertão”, a estreante e esplêndida obra do primeiro grande autodidata da Paraíba.

    Raro exemplo de uma personalidade pública, alçada ao auge do sucesso e da admiração coletiva, sem nenhuma formação universitária ou qualquer grau acadêmico, esse paraibano de Sousa, que somente freqüentou o curso primário revelou, no entanto, por toda a longeva existência, seja no jornalismo, seja em dezenas de livros, incrível ilustração, estilo e domínio do vernáculo, somente vistos em notáveis espíritos da intelectualidade. Muito cedo, aliciado pela leitura de tudo que lhe caia às mãos, desde jornais trazidos pelo correio ao seu distante e atrasado burgo natal a livros de todos os gêneros de quem os tivesse para dar-lhe ou emprestar-lhe, instruiu-se por si mesmo o jovem Celso, mostrando o brilho inato de uma especial vocação humanística.

    Com o surpreendente cabedal, portanto, o sertanejo também admirado pela prosa espirituosa, partiu rumo à capital paraibana, onde, em 1915, fundou em parceria com os chamados “jovens turcos”, o jornal “A Notícia”, logrando, depois de inflamadas campanhas jornalísticas, se eleger deputado estadual, quando então era a Paraíba governada por João Suassuna.

    Embora literalmente dedicado às letras encontrou tempo, nos anos vindouros, para ocupar cargos de notória expressão executiva, a convite de Argemiro de Figueiredo, como titular da Secretaria da Agricultura Comercio e Obras Públicas, então a mais importante pasta estadual, com marcante e fecunda passagem. Dotado de prodigiosa memória e autor de sábias e irreverentes tiradas sobre medalhões de nosso antigo meio político e social, conquistava sempre, com tal senso de humor, as atenções de todos, nos ambientes aos quais comparecia sob torrentes de elogios e mesuras.

    São os seus livros preciosas relíquias aos interessados, de todas as gerações, pela memória da Paraíba, notadamente “Cidades e Homens” e “Ibiapina, um apóstolo do Nordeste”, esgotados com remanescentes exemplares no sebo cultural de João Pessoa.

    Aos noventa e cinco anos, numa visita a Ernani Sátiro, foi-lhe exibida uma foto antiga e esmaecida, de 1920, em que figuravam vários e importantes políticos paraibanos, entre eles o próprio Celso. Ernani observou, admirado, que somente o visitante tivera o privilegio de sobreviver aos demais. Por que isso? – indagou o então governador. Celso

    sem titubear exclamou: oh, Ernani, eu não sou culpado por eles não terem esperado por mim!


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