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  • A Formidável tese de Agassiz Almeida

    29/09/2014

     Ninguém ousaria produzir e publicar uma obra tão profunda e, decerto, isolada no gênero do ensaio histórico-científico, por sua febricitante intelecção e inusitada temática, sem amealhar a indimensível erudição de um Agassiz Almeida, somente vista, na atualidade, em raríssimas individualidades do excelso pensamento especulativo.

    Sinceramente, custa a crer como um humanista de sua geração, comprometido principalmente com a narrativa do martirologio político resultante de duas décadas de regime militar, no governo brasileiro, refoge do lôbrego memorialismo e se confina a elaborar, anos a fio, uma tese verdadeiramente revolucionária, bombástica e literalmente inédita no terreno abissal da genetriz cósmica e do próprio fenômeno da vida.

    Sobremaneira quando suscita, destemida e decididamente, no impressionante empreendimento, a queda de um dos mais cingidos vultos da ciência genética e ontológica do alto do pedestal onde há séculos encarapitado fustiga a imaginação humana sobre o misterioso princípio do universo e de todas as criaturas, com sua famosa e burlesca concepção evolutiva das espécies.

    É surpreendente como o ensaísta paraibano – um dos maiores intelectuais brasileiros – numa linguagem culta e inteligível, à luz de extraordinário senso investigativo e enciclopédicos saberes, vislumbra o sub-reptício patrocínio do império britânico à histórica viagem de Charles Darwin pela América do Sul, com o dissimulado interesse de, mais tarde, solapar as riquezas naturais descobertas no Novo Mundo e assinaladas numa carta geográfica pelo astuto “naturalista”.

    Com esse tom desmistifica o sortilégio de “Origem das espécies pela seleção natural”, com que intentara provar o servil inglês a evolução dos seres vivos a partir de ancestrais comuns com outros grupos do reino animal, a exemplo do homem, nessa esteira descendente do chimpanzé(!), tudo, entretanto a disfarçar os propósitos da expedição náutica, inclusive aos mananciais litorâneos do Brasil.

    Desmascarada a farsa incursiona com fluente coerência científica e filosófica ao cerne da complexa matéria, culminando com a dialética de suas maiores doutrinas, até propriamente encontrar uma “organização inteligente”, na qual reconhece a primitiva capacidade criadora da vida e do grandioso, dinamogênico e imutável sistema que lhe assegura a perpetuidade.

    Portanto, salta ao curioso olhar do leitor esse formidável compêndio de quatrocentas páginas, jamais escrito e legitimamente intitulado “O fenômeno humano”, pelo menos ante a impactante força

    verbal e argumentativa fincada numa originalíssima e irrecusável formulação, própria das grandes e geniais mudanças ideológicas da história.


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