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  • As contradições de Jean Paul Sartre

    16/08/2014

     Notabilizado por sua filosofia existencialista Jean Paul Sartre tornou-se um dos pensadores e romancistas mais influentes do intelectualismo europeu, na segunda metade do século XX, revelando, entretanto, no final da vida, uma gritante e inesperada contradição com os princípios outrora defendidos.

    Reverenciado como herói nacional o feioso e falastrão filósofo francês, de envolvente dialética, pouco antes da grande honraria fora alvo da ira popular ao ultrajar a sociedade burguesa, incitando, publicamente, à deserção os soldados de seu país aquartelados na Argélia.

    Indagado por que não mandara encarcerar aquele agitador, respondera sereno, o emblemático presidente De Gaulle: “Não se manda prender Voltaire”, denotando, com isso o quanto, mesmo assim, era respeitado o famoso escritor na sua pátria.

    Durante a Segunda Guerra Mundial, tendo trabalhado como meteorologista do exército francês, terminou Sartre capturado pelos alemães e, levado a um campo de prisioneiros, ali surpreendentemente encontrou um ambiente receptivo aos seus dramas e divagações, somente retomando a liberdade depois de convencer as autoridades de sua parcial cegueira, quando então logrou regressar a Paris, indo ministrar literatura numa confortável cadeira de professor universitário.

    Entrementes, foi sob a atmosfera do jugo nazista que produziu o discutido tratado existencialista “O ser e o nada”, inspirado em Heidegger e Kierkeggard, tendo logo depois se filiado, por mero oportunismo, à chamada Resistência Francesa, em cujas fileiras, notadamente, pouco ou em nada contribuíra para a expulsão dos invasores. Porta voz dos movimentos socialistas do terceiro mundo fez-se membro do partido comunista francês até se rebelar com o livro “As mãos sujas”.

    Idoso, alquebrado pela doença e pressentindo a morte, renegaria, literalmente, toda a lógica filosófica do “existencialismo”, inclusive a força metafísica da matéria como significado da origem de todos os seres e coisas existentes. Repensando seu ateísmo findou confessando, enfim, numa entrevista amplamente divulgada em 1980, a mudança de opinião sobre a existência de Deus. “Não sinto que sou produto do acaso, originário de um grão de poeira no universo”, admitiu, “mas alguém criado por um ente vivo, onipotente e voluntarioso”.

    Irresignada com a surpreendente reviravolta a ex-companheira e também escritora Simone de Beauvoir apressou-se em repudiar a bombástica retratação chamando-a de “ato senil de um vira-casaca”.

    Com a casaca suficientemente virada morreu o polêmico filósofo, meses depois, sendo, não obstante, por seu pranteado funeral decretado luto nacional na França de ídolos e ídolos.

     

     


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