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  • A obra eterna de Kafka

    07/05/2014

     Um dos maiores escritores do século XX, autor de obras lidas e consagradas mundialmente, Franz Kafka não valorizava a própria criação literária, quebrantado, durante toda a existência, por uma incorrigível timidez que, afinal, lhe retirara a consciência do prodigioso talento.

    Sumamente fecundo e traduzido em todos os idiomas o singular escritor tcheco, nascido na cidade de Praga, numa época de intensas luzes culturais, produziu livros e mais livros, estranhamente originais no domínio da ficção romanesca, sem qualquer comparação, em toda a história da arte literária.

    Quase todos, exceto “A metamorfose”, foram publicados postumamente, sendo resgatados da destruição a que o autor os havia condenado, por um grande e dedicado amigo e biógrafo, sem cuja iniciativa salvadora teria desaparecido completamente todo o bizarro e glorioso patrimônio imaterial do povo tcheco.

    Foi o interesse e iniciativa de Max Brod, companheiro e compartilhante dos meios intelectuais por ambos freqüentados, intelectual e profundo conhecedor da genial verve e imaginação de Kafka que, contrariando o estapafúrdio desejo autoral levado ao túmulo e, principalmente, inconformado com uma grande e virtual perda artística da humanidade, mandara publicar, às suas expensas e responsabilidade, os notáveis monumentos insculpidos pelo inditoso novelista, reduzidos então a manuscritos sentenciados às cinzas.

    Atormentado por toda a vida, seja por insucessos amorosos, seja pelo complexo de inferioridade trazido da infância, seja pela tuberculose que o transformara em hospedeiro de muitos sanatórios, terminou morrendo solitariamente antes de completar quarenta e um anos, assistido, unicamente, pelo fiel amigo Brod, sem jamais imaginar a futura e impressionante popularidade de seu nome e de seus romances.

    De tal sorte e somente por um meio acidental deu-lhe o destino, depois da morte, a impensável celebridade, decorrente do conhecimento pelo mundo de preciosidades como “O Processo”, “O Castelo” e “Carta ao Pai”, num verdadeiro e irônico paradoxo ao ingênito pessimismo e incredulidade que sempre, curiosamente, dispensara às suas extraordinárias criações.

    Tanta baixa estima e inquietude teriam resultado, segundo seu magistral memorialista, de insanáveis traumas, causados no verdor dos anos, pela excessivamente severa e tirânica educação paterna de influencia malsã, numa personalidade reservada e submissa, inteiramente frágil e até

    ingênua do ponto de vista prático, para enfrentar a vida com sua agressiva e enorme complexidade.


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