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Santos Dumont - A glória e as causas do suicídio
09/04/2014
Primeiro brasileiro de grande repercussão mundial, Santos Dumont viveu toda a plenitude da glória que o invento do avião lhe ofereceu, tendo a fama propagado tanto o seu nome e imagem, principalmente por revistas e jornais europeus, que o típico chapéu panamá de abas largas tornou-se, na época, uma moda internacional.
Franzino, pálido e de baixa estatura, tanto pelas atitudes excêntricas e imprevistas, quanto pelas incríveis proezas com que arriscava a própria vida, sobre suas estrambóticas máquinas voadoras, ganhou a popularidade de uma figura mítica, legendária, romanesca, risível mesmo, devido à expressão pré-chapliniana, exibida espontaneamente nos trajes, nos modos e na conduta social.
Certo de seu raro talento pôde, todavia, o cientista caricato, com a proverbial modéstia mineira, conciliar a aplaudida genialidade à alma do homem simples e, intimamente, despretensioso, presente a todas as homenagens e cerimônias em seu elogio, sem se deixar empolgar pelos esplendores da celebridade, conquistada depois do salto da ciência moderna, resultante dos seus feitos.
Humanista, achava que a ciência e a técnica eram bens coletivos pertencentes ao acervo da humanidade e, como tal, deveriam, universalmente, contribuir para o desenvolvimento cultural de todos os povos, sem uma bandeira nacionalista.
Contudo, a despeito da reivindicação dos Estados Unidos sobre o pioneirismo da fantástica e revolucionaria invenção, em prol dos irmãos Wright, quase todos os notáveis aeronautas e entidades do gênero, até hoje, conferem ao nosso “Pai da Aviação” a comprovada primazia e o inconteste mérito, sobretudo com o argumento segundo o qual, os aeroplanos rivais, de fato, contemporâneos, somente eram projetados ao espaço sob o impulso de uma catapulta, enquanto os do prodigioso brasileiro subiam do solo, exclusivamente, com força própria.
A civilização francesa, testemunha ocular de suas experiências e de sua inventiva inovadora, foi a primeira a desfazer a controvérsia criada pelos norte-americanos, desde o histórico passeio aéreo do 14-Bis, em 1904, em volta da Torre Eifell, ao entusiasmo e admiração de milhares de parisienses, dando-lhe o nome numa das praças da Cidade Luz, onde também erguera um imponente monumento em sua memória.
Espírito sensibilíssimo, de regresso ao Brasil onde voltara a viver, constatou o uso de sua criação como instrumento bélico, pelas notícias vindas da Europa, a partir da primeira guerra mundial. Entrou, assim, o grande e consagrado inventor em profunda misantropia e irreversível depressão psíquica, somente findando a angustia, revelada nas fotos de semblante triste, com o comovente suicídio, perpetrado em 1932, durante a revolução paulista, quando sob os céus da praia de Guarujá, onde se
encontrava em descontraído lazer, vislumbrara, pessoalmente, o conflito entre dois aviões bombardeiros de bandeira brasileira, numa inaceitável luta fratricida.
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