Página inicial


  • Alexandre Gusmão - construtor do Brasil continental

    27/03/2014

     Vítima do terremoto que abalou a cidade de Lisboa, em 1751, morreu pobre, doente e esquecido o autor do inigualável feito diplomático de nossa historia que incorporou ao mapa do Brasil metade do seu imenso e atual território.

    Foi o brasileiro Alexandre Gusmão um brilhante historiógrafo e erudito professor da Universidade de Coimbra, respeitado na Corte de D. João V, onde transitava livremente, por seus invulgares saberes de geografia e historia política, o personagem pouco memorado, sem o qual não teriam Portugal e Espanha celebrado o histórico tratado de Madri que mudou o antigo conceito de fronteira, entre as colônias sul-americanas, pertencentes aos dois reinos, duplicando as dimensões de nosso país.

    Decorridos mais de dois séculos da descoberta do novo mundo, os domínios partilhados entre as duas nações ibéricas, ainda não exibiam limites geográficos definidos, a despeito da previsão de Tordesilhas, firmada trezentos anos antes, cujos termos fixaram os portugueses na costa atlântica e castelhanos, principalmente no lado oriental do novel continente.

    À luz de profundo conhecimento geopolítico da cartografia colonial e dos tratados e convenções pelos quais as nações procuravam estabelecer seus direitos sobre as terras descobertas e inexploradas, encetou Alexandre Gusmão uma longa e doutrinária luta diplomática para dirimir, definitivamente, a batida controvérsia, o que, finalmente, acontecera a partir da convenção madrilena assinada, solene e festivamente, com a presença dos monarcas envolvidos no litígio.

    Essa a grande e eterna obra, habilmente construída pelo admirável diplomata, que assegurou meio continente a Portugal e, ao porvir de nossa gente, um dos maiores e mais ricos celeiros do mundo, sobretudo com as novas lindes reconhecidas, inclusive após nossa independência, pela comunidade internacional.

    Ao formidável êxito se respaldara Gusmão no largo conhecimento sobre a saga dos bandeirantes e desbravadores, o avanço espontâneo dos colonizadores e das missões religiosas por campos inabitados, floresta adentro, erguendo vilas, conventos e fortificações do Amazonas ao Prata.

    Com tal bagagem e ciente da presença portuguesa por inimagináveis quadrantes, até as proximidades dos Andes, defendera, então, a aplicação ao pacto conciliatório do princípio romano de “uti possidetis”, segundo o qual pertenceriam as áreas questionadas ao país efetivamente imitido na posse, ficando os marcos limítrofes balizados por vizinhos acidentes naturais, como o curso de rios, lagos montes e serras.

    Ao longo dos tempos seriam corroboradas as novas fronteiras do mapa brasileiro, preservando as bases geográficas e fundamentos jurídicos delineados pelo insigne precursor, cujo nome, no entanto, permanece desconhecido pela maioria dos brasileiros e sequer denomina uma rua ou

    praça do país que tanto engrandeceu, dando-lhe um invejável tamanho continental.


    Voltar