Página inicial


  • A simplicidade Einstein

    19/03/2014

     Arredio e desprovido de interesses materiais, ninguém ficou mais surpreso com o repentino dilúvio de fama que recaiu sobre o seu nome, ao redor de todo o mundo, que o próprio Einstein, depois de haver mudado a Ciência, dando-lhe uma nova concepção do universo. 
    Saudoso recordava a época em que, sem alardes nem ostentações, encontrava silêncio e sossego para se aprofundar na apaixonada procura pelo esconderijo último da verdade – a cadência íntima do movimento dos astros e sua relação com o tempo e o espaço. 
    Era notoriamente um tipo diferente, solitário e taciturno, pouco lhe importando, realmente, a reputação de “vencedor de Newton” e de um dos maiores cientistas da história, senão explorar os temas insondáveis que lhe davam asas ao portentoso pensamento especulativo. Não se comprazia com o dinheiro da consagração, tendo inclusive partilhado os valores do prêmio Nobel com a ex-esposa e carentes de casas filantrópicas. 
    Desejando passar o resto da vida apenas a proferir suas aulas ou, tranquilamente, debruçado sobre insólitas investigações científicas, certo dia despertou estarrecido com sua imagem, um tanto irreverente, de língua pra fora, estampada em jornais de todo o planeta. 
    Exasperado, depois de tamanha popularidade, não podia mais fazer o seu costumeiro passeio diário pelas ruas, sem ser abordado por fotógrafos, repórteres e caçadores de autógrafos, enquanto no modesto apartamento de Berlim chegavam todos os dias, pacotes e mais pacotes de cartas, endereçados por gente de todos os lugares, não somente pesquisadores e expoentes, eis que a humanidade lhe convertera no gênio do século. 
    “Agora que se demonstrou, comprovadamente, a exatidão de minha teoria da relatividade”, comentou entre alunos, num singelo e irônico desabafo, “a Alemanha vai proclamar que sou alemão, e a França vai dizer que sou cidadão do mundo. Se se provasse falsidade nas minhas idéias a França diria que sou alemão, e a Alemanha logo me chamaria de judeu”. 
    Certa feita, convidado pela rainha da Bélgica, sem imaginar que um Comitê de recepção da Corte iria esperá-lo na estação de Bruxelas numa pomposa limusine, desceu do trem, com a velha pasta numa das mãos, se dirigindo a pé ao palácio real. 
    Os dignitários reais avistaram então o vulto empoeirado de um caminhante grisalho que vinha pela estrada. 
    - Por que não usou o carro que lhe mandei professor? Indagou a soberana. 
    O homenageado olhou-a com um ingênuo e sincero sorriso. 
    - Foi uma caminhada espontânea e bastante aprazível, majestade! 
    Não pedia limusines nem semelhantes vaidades sua extraordinária viagem pela vida, como a de todo grande e notável homem, verdadeiramente sábio!


    Voltar