Página inicial


  • A morte de Antenor Navarro

    06/03/2014

     No momento em que se afirmava a vocação de líder e homem público, revelada na conspiração de 1930, sobretudo pela ousadia, visão administrativa e intransigência de princípios éticos e morais, perdeu a vida, aos 32 anos, o paraibano Antenor Navarro, interrompendo uma ascendente e fulgurante carreira de estadista.

    Noticiado por toda a imprensa brasileira da época, o sinistro que lhe causou o passamento e também fez outras vítimas, sucedeu em abril de 1932, no litoral da Bahia, quando o avião “Savóia Marchetti”, em que viajava com destino ao Rio, então capital da República, onde pleiteava recursos para mitigar os efeitos da seca na Paraíba, tombou subitamente, adernando nas águas do Atlântico, onde restaram sobrevivos, entre outros, o ministro José Américo de Almeida e o escritor Nelson Lustosa Cabral, milagrosamente resgatados do palco da tragédia.

    “O ânimo forte que expusera o peito às balas, em 1930, teve um momento de fragilidade, ao sentir que ia ser fulminado sem nenhum heroísmo”, descreveria depois, no consabido estilo, o autor de “O ano do nego”, em capítulo intitulado “Um mergulho no abismo”, sobre a reação do companheiro de viagem, no derradeiro instante, evocando o pavor com que arrostou a abrupta e imponderável fatalidade.

    Sem pertencer a nenhuma estirpe política, nem antes haver se encarreirado pelos cargos eletivos, a indicação do jovem engenheiro, jornalista e esteta de múltipla sensibilidade intelectual, ao governo do seu estado, sem jamais o almejar, fora, notadamente, uma exceção, patrocinada pelo prestigioso general Juarez Távora, comandante nortista do movimento revolucionário, em cujas fileiras se destacara Anthenor, como prócer fardado e combativo, seduzido pelos ideais da Aliança Liberal.

    Espírito privilegiado e erudito sobressaía na índole carismática e asceta, dócil aos rigores da lei e aos sentimentos de justiça, os arrojos visionários da liderança estratégica e organizada, como sói ocorrer a notáveis dirigentes, deixando na exígua quadra de seu governo um extraordinário legado antecipatório do futuro, em favor do bem comum.

    Investido na interventoria, não houve setor da administração estadual que não experimentasse o sopro de suas idealizações, a exemplo do aparelhamento e ampliação da rede pública escolar e da malha rodoviária interiorana, os primeiros conjuntos residenciais do antigo Montepio, a edificação do hotel termal-balneário do Brejo das Freiras, o quartel da Polícia Militar do Estado, o Parahyba Palace Hotel, o campo de aviação do estado, a construção do porto de Cabedelo, para navios de grande calado, entre outras relevantes e auspiciosas listadas, minuciosamente, pela professora Glauce Burity, no mais completo ensaio historiográfico já editado acerca do operoso período governamental.

    Desaparecido no verdor dos anos, seus feitos permanecem inapagáveis, desafiando o irônico destino que, lhe permitindo, muito moço, subir tão alto, contraditoriamente, privou a terra dileta, prematuramente, da inteligência de um dos maiores paraibanos de todos os tempos.


    Voltar