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  • A poesia de Francisco Gil Messias

    23/02/2014

     


    Além de surpreendente bagagem humanista e literária, aos dezessete anos Francisco Gil Messias já revelava uma capacidade incomum para o exercício da arte poética e, a despeito da notória simplicidade, não lograva esconder ao punhado de companheiros do Liceu, a notável sensibilidade criadora, destacando-se como um dos mais admiráveis talentos de sua geração.

    Era a década de setenta uma época inteiramente hostil a manifestações intelectuais e artísticas, principalmente da classe estudantil, mas nem por isso se quedou submisso o jovem liceano, poeta e idealista, mostrando, nos rebentos da criação juvenil e nos discursos inflamados dos grêmios colegiais, as ardentias de sua alma transcendente e inquieta.

    O eloqüente grito de protesto, inconformação e repúdio de sua juventude pura e meritória contra as iniqüidades de uma sociedade hipócrita e estruturalmente corroída pelos mais nefastos e dissimulados interesses, ressoaria incontido por toda a vida, ora nos gestos públicos e pessoais, ora no íntimo da formidável e então inédita construção poética, mais tarde insculpida nos livros intitulados “Olhares – poemas e bissextos” e a “A medida do possível (e outros poemas da Aldeia)”, produzidos no curso de vários e meditativos anos, porém só recentemente divulgados.

    Leitor intérprete e reflexivo, grande pensador e respeitável guardião do enredo literário, ainda soam nas especulações cerebrinas de Gil Messias a dialética de um Kant e de um Schopenhauer, de um Voltaire e de um Rousseau, o romance comprometido de um Thomas Mann, de um Kafka e um Rilke, mas, sobretudo, os versos tocantes e angustiados de Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Augusto, Fernando Pessoa e Carlos Drummond.

    Aliás, foi o verso drummondiano que, particularmente, incendiou a consciência versejadora, desatando na alma sensível e introspectiva a vocação lírica e a diletante paixão pelo gênero poético, o verdadeiro instrumento de seu universo pensante. Tal como os do imortal itabirense, os seus poemas sugerem uma inelutável aversão a vaidades e orgulhos frívolos, ao medíocre e dominante interesse pelo “ter”, mas, sobretudo, certo desencanto pela vida, cheia de tormentos e angustias, entre as quais sua imperscrutável e misteriosa finalidade.

    Traz, portanto, a sua lira a marca de um poeta singular, inconformado, desde os fulgores da juventude audaz, com o dramático fenômeno existencial, uma visão livre e filosófica, cuja publicidade, em livros de alta aceitação, coloca o despretensioso autor entre as mais lúcidas inteligências da nossa intelectualidade.

    Advogado, escritor e professor a trajetória de Francisco Gil Messias é exemplo ímpar de um sublime ser humano, exclusivamente dedicado aos estudos, ao bem e ao raciocínio profundo, sem olvidar as raras qualidades herdadas pelo berço e pela educação.


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