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  • Uma literatura terapêutica

    14/01/2014

     Apesar da crescente preferência do público leitor por uma literatura do gênero trágico, absurdo ou cataclísmico, concebida, por exemplo, na trama de Albert Camus, André Gide, Vargas Llosa, Spengler e, mais recentemente, Alvim Tofler, no seu polêmico “O choque do futuro”, ainda há, no mercado livreiro, bastante e apropriada leitura para os mais diferentes estados de espírito.

    Não aconselho, por experiência pessoal, aos que desejam escapar das cadeias lancinantes da angústia, do tédio e da misantropia as obras de tão premiados e discutidos autores. E nem tampouco os versos tristes e melancólicos de Rimbaud, Edgard Alan Poe, Antero e, mesmo a despeito de toda sua genialidade, a lira bizarra do nosso incomparável Augusto.

    Nada trazem a mitigar o quadro de aflições, dores existenciais e desilusões íntimas, produzidas pela inquietude mental. Somente recrudescem o baixo astral e alimentam a sensação de incompatibilidade com a vida, de que se ressentem os envolvidos pelos tentáculos da depressão circunstancial ou duradoura e profunda.

    Ora, se realmente o caminho da felicidade está no conhecimento, conforme Bertrand Russel, não conhece depressão, como bem lembra o nosso admirável cronista e escritor Carlos Romero, “quem tem o hábito da leitura”. Melhor, portanto, nas recaídas ao abatimento psíquico e emocional, tão freqüentes na atualidade, recorrer à consolação de velhos e infalíveis textos de esperança, fé e otimismo. Inclusive os de natureza sagrada, despojados de influência ortodoxa, como os Salmos e os Cantares de Salomão, as Orações de São Francisco de Assis e de Madre Tereza de Calcutá. E ainda, na velha Bíblia, ao bálsamo eficaz das bem aventuranças e das prédicas cristãs: “Não se turbe o vosso coração” e “vinde a mim todos os cansados e oprimidos e eu os libertarei”.

    Por outro lado, essa terapia psicológica, aos amantes das letras, melhor que as publicações de auto-ajuda, produzem também as páginas aprazíveis de Saint-Exupéry, Pascal, Proust, Dickens e Marco Aurélio. Particularmente, nessa fuga, encontro lenitivo, na moral dos contos e estórias infantis, voltando às fantasias de Robson Crusoé, Viagens de Gulliver e ao mundo fascinante de Julio Verne e de La Fontaine. Ou relendo, leniente e meditativo, romances da categoria inconfundível de “A cidade e as serras” de Eça e “Horizonte perdido” de James Hilton.

    Ingressando no paraíso de Tormes, imaginado pelo escritor português, enfeitado de paisagens paradisíacas ou na filosofia lamaica do Shangri-La, entretecida de amor e solidariedade, encontramos, decerto,

    todos os filtros para a cura de mórbidos sentimentos e a restauração da saúde da alma. Literatura repousante e naturalmente terapêutica, para convalescer, recriar planos e restabelecer a crença no prodigioso dom da vida.


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