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  • Injustiças históricas

    30/10/2013

     Cristovão Colombo descobriu a América, numa incrível odisséia, navegando com três embarcações toscas, por um oceano desconhecido, mas quem deu nome ao Novo Mundo foi Américo Vespúcio, um rival fanfarrão, que chegou do lado de cá do Atlântico, na rota já percorrida, com numerosa frota, quase uma década depois.

    Essa a primeira grande e irreparável injustiça perpetrada pela história contra a memória de um importante vulto da humanidade.

    O filósofo Giordano Bruno, intrépido pioneiro contra os velhos dogmas religiosos, desfavoráveis às descobertas científicas, dos fins da Idade Média, findou queimado vivo pela Santa Inquisição e, completamente, ofuscado pela histórica dimensão atribuída a Galileu, na posteridade, como precursor da corajosa insurreição. E, no entanto, o inventor do telescópio abjurou de suas convicções, para escapar da fogueira!

    Semelhante descaso tem propalado, ao longo dos tempos, que o fantástico invento do avião é dos americanos irmãos Wright, deixando, assim, o nosso Santos Dumont em plano secundário em relação ao grande salto da ciência, mesmo tendo o genial brasileiro, publicamente, em 1901, diante de parisienses atônitos, elevado do solo, com impulso próprio, o primeiro engenho humano dirigível, num ostentoso passeio aéreo ao derredor da Torre Eiffel.

    No Brasil, o verdadeiro idealizador da Academia Brasileira de Letras não foi Machado de Assis, a quem é atribuída, até hoje, a excelsa iniciativa, mas Lúcio de Mendonça, um escritor e jornalista, quase totalmente esquecido, pela própria e legendária instituição cultural, sem cujo entusiasmo não se teria realizado, em 1897, o movimento fundador, na redação da “Revista Brasileira”.

    Além disso, é sabido que o símbolo da inteligência e erudição em nosso país não é outro senão o grande Rui Barbosa, que, realmente, deu vasta contribuição às letras, como jurista, parlamentar, ministro da República e publicista, porém ninguém dominou mais profundamente o idioma português do que o maranhense Coelho Neto, único brasileiro, autor de todos os gêneros literários, com mais de 100 livros editados em vernáculo erudito, assim considerado pelo próprio “Águia de Haya”.     

    Aqui, na terra de Augusto dos Anjos, sequer encontra o turista uma estátua de corpo inteiro, em logradouro referencial da capital, compatível com a gloriosa enormidade do poeta mais editado, lido e debatido da literatura brasileira, enquanto homenagens, antigas e de tal pompa, são vistas aos irmãos Álvaro e João Machado, políticos, notoriamente inexpressivos, responsáveis pelo exílio espontâneo e definitivo do grandioso e incompreendido vate, para o estado de Minas Gerais, onde, com o emprego de professor, morreu pobre e esquecido.

    Injustiças gritantes como estas atravessam séculos permanecendo recobertas pela versão enganosa da fama, um irreversível e imponderável fenômeno social.


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