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  • João Jurema

    11/10/2013

     Seu nome era falado e ouvido com respeito, entre professores e alunos, como lente da disciplina Introdução ao Direito, em cuja cátedra brilhava o saber do jurista de escol, experiente e culto, mas também, e notadamente, a mestria, em toda sua dimensão, de um vocacionado para as lides do magistério.

    De fato, logo nas aulas inaugurais do período letivo, como seu aluno, comprovei o referencial e unânime conceito a respeito de João Guimarães Jurema, no professorado de uma disciplina que interessava, vivamente, a todo o alunado, sobretudo recém-chegado aos bancos da veneranda Faculdade de Direito.    

    Bem vestido, sempre de paletó e gravata, desdobrava-se no oficio, quase sacerdotal. Postura elegante, poucas vezes erguia-se do birô para acentuar algum trecho curial da aula, a que nunca faltava, no horário matinal, proferida com voz firme e altissonante, enchendo toda a sala.

    Sacava da imaginação, com irrepreensível fluência, uma esteira de conhecimentos acumulados no curso da vida inteira dedicada às atividades jurídicas, desde o bacharelado em Recife, na renomada escola de Tobias Barreto, seja como advogado militante, consultor jurídico, seja como Procurador da República. Falando de improviso, sem consulta a qualquer nota ou compêndio, com notável riqueza vocabular, ostentava indefectível memorização ao aludir, com paráfrases completas a autores indispensáveis da matéria lecionada e dos demais ramos do direito.

    Este o primeiro ângulo, certamente devido ao ensejo privilegiado de lhe ter sido discípulo, pelo qual colecionei as impressões, ora narradas. Contudo, logo adiante, depreendi que o distinguido mestre não se limitara ao ensino exclusivamente, mas já apresentava àquela altura da vida, longa e respeitável folha de serviços públicos, nomeadamente, como Deputado Estadual e Secretário de Estado da Pasta das Finanças, na década de cinqüenta, quando, então governava José Américo de Almeida.

    Na verdade, iniciara João Jurema sua trajetória pública em Cajazeiras, a cidade natal, onde advogando no júri popular, propagou o nome por toda a região sertaneja como eloqüente e carismático orador, cheio de recursos no domínio da tribuna forense. No parlamento estadual sua voz intrépida e eloqüente se fizera inelutável na defesa da gente desamparada do campo e das povoações remotas do alto sertão.

    Iluminado pelo cariz do sucesso que envolvera toda a existência deixou o cargo de Secretário de Estado, após retilínea e incensurável gestão, para ocupar, como primeiro titular, na Paraíba, as altas funções de Procurador da República, em cujo exercício permaneceu até a inatividade.

    Íntegro sob todos os prismas, rigorosamente probo na gestão da coisa pública, sem nenhuma eiva de soberbia ou arrogância, João Jurema é um personagem raro da história da Paraíba, que deixou um modelo, ainda tão necessário, do antigo e ilibado homem público.  


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