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  • O genial Hildeberto

    05/10/2013

     Apesar da sombria atmosfera do repressivo regime militar, encastelado no Poder dirigente do país, era a velha Faculdade de direito da UFPB, na década de setenta, além de entidade universitária, um palco eclético e ideológico de manifestações culturais, resistente ao arbítrio contra o livre direito de pensamento e expressão.

    Em meio ao fragor desse confronto, silente e invisível, crepitava, entretanto, no âmago da classe estudantil, a chama audaz de um grupo gerado por mera casualidade e envolvido por utópico idealismo sócio-cultural, cujos nomes, mais tarde, se revelariam notórios expoentes nos campos múltiplos do direito, do jornalismo e da arte literária na sua mais genuína legitimidade.

    Essa a diferença palmar da grei entusiasta, seleta e virtuosa, a se reunir, sem calendários nem rituais, ora sob a epígrafe de Centro de Oratória Alcides Carneiro, ora sob a nomenclatura de Academia Universitária de Letras, em recintos e corredores da própria escola superior, principalmente no vetusto mosteiro de Malagrida, onde, então, despontava a presença ímpar de Hildeberto Barbosa Filho, no formidável esplendor mental de sua juventude.

    Ao despretensioso convívio se juntara, entre outras, figuras do porte de Eitel Santiago Pereira, Francisco Gil Messias, Alexandre Luna Freire, José Ricardo Porto, Antônio do Amaral, Alcides Jansen, José Aurélio da Cruz, José Adalberto Targino, Magno Meira, Everaldo Nóbrega, Hélio Silva, Levi Borges, Marconi Chianca, além do autor desta crônica memorativa.

    Eram valorosos jovens e plumitivos intelectuais sem, precisamente, nenhuma tendência político-partidária, porém apenas comprometidos com a paixão pura e incoercível pelos livros e pela reposta do saber às complexas indagações do conhecimento, que tanto inquietam o homem individual e coletivo. Uma raridade, enfim, numa época literalmente devastada pela mediocridade e submissão de movimentos fúteis e estéreis.

    Espírito irrequieto, perspicaz e sensível, favorecido por uma prodigiosa inteligência e extraordinária capacidade dinamogênica de exegese e conceituação, cultivando, desde moço, como sempre cultivou, com absoluto domínio e irretocável fluência, o exercício da palavra erudita, escrita e falada, Hildeberto, de sinceras e duras opiniões, logo maravilhou os companheiros do pugilo culturalista, afinal o cenário que se tornou o limiar da fulgurante e genial carreira intelectual.

    Isto, tanto pela profunda e variegada cultura geral, vazada em brilhantes e improvisados pronunciamentos, quanto pelas altas notas, no curso jurídico, a que chegou vindo dos pagos de Aroeiras, mediante vestibular, no qual se classificara em primeiro lugar.

    Único da turma que, logo cedo, largou a lida forense, permutando-a, pela cátedra docente, produziu o admirável e dileto convivente das calorosas e inesquecíveis tertúlias juvenis, como poeta, escritor e crítico literário, ao longo da afortunada carreira, uma vasta e consagrada obra, compreendida por mais de cinqüenta volumes, inscrevendo, assim, à luz de méritos nacionalmente aclamados e para orgulho da notável geração, o seu nome entre os maiores do gênero na atualidade brasileira.     


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