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  • Padre Rolim e Cajazeiras

    27/09/2013

     Ao distinguir Cajazeiras como “a cidade que ensinou a Paraíba a ler”, num de seus memoráveis discursos, poderia o incomparável Alcides Carneiro ter aludido a ministério bem mais amplo, porque, na verdade, essa obra precursora ganhou inesperado vulto, se propagando por toda a região nordestina.

    Fundada em meados do Século XIX, com nome arbóreo nativo, sobre terras então pertencentes aos pais do padre Rolim, foi na majestosa urbe, de nossos confins ocidentais, onde surdiu o primeiro e auspicioso movimento educativo e cultural do Estado, a ensinar o então bizarro gosto pelo saber e pelo conhecimento, como princípio básico da vida social e prerrogativa iniludível da criatura humana.

    Coube ao padre Inácio Rolim, um erudito missionário da Igreja, a São Tomás de Aquino e a Santo Agostinho, por D. Pedro II, cognominado de “O Anchieta do Norte”, mesmo isolado no alto e inóspito Sertão, sem o mínimo contato com os centros adiantados do País, trazer ao esquecido rincão a luz dos evangelhos e também a dos clássicos e de todas as ciências, ao longo da vida apostolar, descobrindo a extraordinária vocação didática do berço natal.

    E isto só possível através do célebre Colégio Diocesano, ainda hoje lembrado como um dos símbolos miliários da civilização brasileira, em cuja construção se empenhou o notável sacerdote, literalmente a braços com pedras e fundações, na aludida propriedade familiar, ao derredor da qual se expandira e cresceu a metrópole sertaneja.

    Poliglota, filósofo, cientista, vernaculista, senhor de uma cultura universal, jamais experimentada por outro paraibano, o renomado clérigo se devotara, por inteiro idealismo, ao magistério filantrópico, lecionando, como o fez até a morte, com as fascinações de uma inteligência invulgar, disciplinas as mais diversas, formadoras da consciência acadêmica, à época, somente ministradas em respeitadas faculdades européias.

    Em busca de tal preparo acorriam, enfim, nordestinos de todos os recantos, ávidos pela excelência dos raros ensinamentos e pelo título instrutivo e honroso, outorgado por aquela verdadeira e insólita universidade, um admirável polo educacional, no remoto, desolado e agreste Sertão do Brasil Imperial.

    Entre os que lá, no discipulado se ilustraram, figuram no registro histórico, o lendário padre Cícero Romão, cardeal Arcoverde, desembargador Peregrino de Araújo, governante da Paraíba no início do século passado, historiador Irineu Joffily, professor e magistrado Joaquim Bilhar, o herói da guerra do Paraguai Tomás Duarte Rolim, deputado provincial Joaquim Antonio Cartaxo, além de outros conceituados escritores,

    políticos, juristas e jornalistas, reconhecidamente bem sucedidos nos seus Estados originários.

    Diante de um legado de tão grave importância ao grande esteio da civilização brasileira, continua a se ressentir o historicismo pátrio de estudo compatível, relevante e mais acurado sobre a fundamental contribuição da entidade secular e seu glorioso padre-mestre e da cidade vocacionada ao estrato profundo e genuíno da nacionalidade.


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