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  • Os 70 anos de Epitácio Pessoa

    24/08/2013

    Há exatos setenta anos expirava, em Petrópolis, num sítio encravado entre serranias, tão parecidas com as do seu Umbuzeiro natal, o paraibano Epitácio Pessoa, único, entre todos os brasileiros, que chegou ao ápice dos três Poderes da República e, ainda, sozinho, ostenta o título de “Cidadão Benemérito da Pátria”, jamais concedido a nenhum outro vulto de nossa história.
    Deputado Federal aos 25 anos, Ministro da Justiça aos 32, Presidente aos 54, no entanto, vem dos arroubos no parlamento, quando se defrontara com Floriano – o Marechal de Ferro, numa luta verbal de titãs, sua fama de tribuno impetuoso, culto e elegante. Mas também a de político íntegro, qualificado por incorruptível espírito público e, sobretudo, pela bravura cívica e pessoal invulgar com que marcou todos os atos decisivos da fulgurante e admirável trajetória até a suprema chefia da nação, a que alçou desmoronando o mitológico Ruy Barbosa.
    Além disso, foi “a patativa do norte” embaixador do Brasil na Conferência de Paz em Versalhes e também o único sul-americano, em meio século, a vestir a toga de magistrado da Corte Internacional de Haia, onde, ao brilho de suas teses, se agigantara na cena internacional, com a defesa em prol da igualdade entre os povos, da justiça social e dignidade do ser humano, então, subjugado, nos países pobres, ao látego da mais execranda miséria.
    Toda a sua vida, pelo gosto do arriscado e das atitudes temerárias, a par das fulgurações da inteligência, foi um permanente e desassombrado desafio ao perigo e até ao dolo homicida de adversários, a exemplo do episódio do Forte Copacabana, quando sob a alça de mira de canhões, no Palácio Catete, reagira, bradando, firme e determinado: “Este é o meu posto. Daqui só saio morto”. E, com igual ousadia, quando advertido da trama para assassiná-lo, na descida de Petrópolis, marchou, conscientemente, com hora marcada, ao encontro do atentado, felizmente malogrado.
    No governo epitacista, ainda convalescendo a humanidade dos reflexos da Primeira Guerra Mundial, valeu-se o paraibano da consciência nacionalista, aflorada por todo o País, para beneficiar o seu Nordeste, castigado pelas secas, com a construção dos grandes reservatórios, mesmo sob o fogo cruzado da oposição sulista, como Piranhas, São Gonçalo, Boqueirão, Orós, Coremas, entre outros, os quais, afinal, se tornaram definitivos e prôvidos focos de salvação humana e coletiva, ajudando, como ocorre até hoje, a fixar o sertanejo, pela irrigação da terra semeável no seu dramático hinterland.
    Ao término da emblemática e gloriosa carreira deixou Epitácio, em célebre relatório intitulado “Os meus haveres”, o mais impressionante gesto do formidável legado, rara prova de ética e lisura de um homem público, em cujo detalhado texto escancarou o seu patrimônio pessoal e a respectiva origem ao conhecimento geral do povo brasileiro, sem subterfúgios, nem temer vexames, numa veleidade reservada somente aos maiores estadistas da história.
     


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