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  • As coletâneas de Wellington

    20/08/2013

    No livro intitulado “Dona Joaquina, as normalistas e outros textos”, lançado ano passado, o intrépido e notável historiador e acadêmico Wellington Aguiar, rebuscando graves e longínquos eventos, reúne, em primorosa coletânea, seletas crônicas, divulgadas pela imprensa, desmistificando, entre outros temas, a versão oficial e lisonjeira sobre notórios episódios e personagens da história.
    Além de reacender, portanto, irresolutas e impactantes controvérsias no campo da historiografia, o compêndio realça tipos, costumes e fatos esfumados pelo tempo, resgatando-os da negligente e passional narrativa de historiadores épicos, comprometidos, o mais das vezes, com interesses servis e até inconfessáveis, perante políticos influentes e potentados dos respectivos tempos.
    Nesse tom, assevera o ilustre e incombatível escritor, por exemplo, que a nossa martirizada Branca Dias, condenada à fogueira da inquisição clerical, no século XVI, não passa de mera fabulação de imaginosos e delirantes literatos locais como Carlos Dias Fernandes J.J. Abreu e Ademar Vidal, pois, de fato, nunca existira, conforme sóbrios e verossímeis estudos, inclusive nos arquivos da Torre do Tombo em Lisboa, por um dos maiores e mais ilustrados pesquisadores brasileiros da atualidade.
    Entre outros vultos enfocados, arrosta D. Pedro II, um monarca ainda hoje venerado, severa diatribe da pena realista de Aguiar, segundo a qual era o magnânimo e indolente imperador um inequívoco imobilista, inculpado pelo atraso secular de um país, praticamente, iletrado e ainda escravagista, em fins do século XIX.
    A antologia é enriquecida, além disso, por um sincero panegírico a ilustres biografados e seus feitos em prol da Paraíba, sempre numa linguagem tersa, sem adjetivação graciosa, mas, sobretudo, com a necessária e criteriosa dosimetria do senso crítico indispensável a um verdadeiro cientista da história. João Pessoa é focalizado sob os mais diversos aspectos, principalmente como estadista e político emblemático, líder do inusitado processo de mudança estrutural do poder, na Paraíba, a partir de 1928, com a ressalva de haver o seu nome contribuído sensível e potencialmente para o renome do turismo em nossa terra.
    Contudo é a projeção da ousadia feminina o que traz algo de novo e sensacional ao florilégio, reportada em dois espetaculares episódios, um alusivo à pioneira e entusiástica participação das alunas normalistas no movimento revolucionário de 1930, outro referente ao propósito com que uma viúva, dona Maria Joaquina de Santana, após anos de preparação, sozinha, num ato de ousadia invulgar, protagoniza a desforra pelo assassínio covarde e hediondo do marido, um herói paraibano da confederação do Equador, abatendo o criminoso, convencido da impunidade, a tiros de bacamarte numa emboscada.
    Livro fundamental e corajoso, esse de mestre Wellington, tão cheio de ardentes paixões, quanto de nuas verdades e desafiantes contraditas, de cujos textos podem os leitores, naturalmente, inferir, com exigência culturalista, a genial expressão de Oscar Wilde, segundo a qual todos sabem fazer história, mas só os grandes é que sabem escrevê-la.
     


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