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  • Tarcísio Burity

    07/08/2013

     Era meados do regime de exceção no governo do país, precisamente o ano de 1978, quando, inesperadamente, o jovem professor e humanista Tarcísio Burity sem o almejar, foi alçado de Secretário da Educação e Cultura do Estado ao cargo de Governador, notoriamente cobiçado pelos políticos de carreira, tendo, à semelhança de Osvaldo Trigueiro de Albuquerque e José Américo de Almeida, homens de pensamento e ação, realizado uma das mais fecundas e inovadoras gestões da história da Paraíba.

    A súbita ascensão, ao mais alto posto do executivo estadual, nunca sequer sonhada pelo distinguido mestre, de aulas magistrais e admirado por todo o alunado da Faculdade de Direito, nas décadas de sessenta e setenta, resultou de alternativa a que lançara mão o comando dirigente do governo militar, por indicação de representantes da Paraíba, principalmente o então Governador Ivan Bichara Sobreira, para desarmar o entrechoque de veteranos líderes partidários locais, nos escalões decisórios da República, cada um a reivindicar a própria nomeação, valendo-se da vigente via eletiva indireta no pleito sucessório daquele ano.

    Além disso, o “tertius” sugerido à pacificação do renhido confronto de bastidores, ostentava um renomado e austero perfil de administrador público, revelado em funções de grave responsabilidade, exercidas, anteriormente, com probidade e esmero, no Tribunal Regional Eleitoral, na Universidade Federal e na referida Secretaria de Estado.

    Sem nenhum pendor inato para a atividade político-partidária e suas intrigantes peculiaridades, devido, certamente, ao temperamento, um tanto tímido e reservado, Tarcísio Burity, com a polida educação de berço, era, sobretudo, um intelectual de ebuliente paixão pelos livros e incrível carisma professoral, dotado de peregrina inteligência e grande bagagem de conhecimentos. Na verdade, cultivara esse raro diletantismo a vida inteira, lapidado, inclusive, pelos saberes acadêmicos da civilização européia, onde se especializara, com notável desenvoltura.

    Encarou então o desafio, estimulado, entretanto, por uma impressionante dialética e o inquestionável dom da oratória, retocados na cátedra do magistério. Compensou, assim, com a sedução da palavra, a combatida e ironizada condição de “neófito” no campo político, pronunciando discursos cheios de brilho e persuasiva argumentação, ao alcance das massas populares, tanto nos palanques a céu aberto, quanto nos auditórios e recintos fechados, a lembrar o estilo de um Argemiro e de um João Agripino, deixando, nas duas passagens pela direção do estado, vasta e insuperável obra de caráter social e futurista.

    A Costa do Sol, a via litorânea, o Espaço Cultural, o abastecimento completo de águas e esgotos da capital e milhares de casas populares dos grandes conjuntos residenciais, transformados, progressivamente, em bairros, onde, hoje, vivem mais de cem mil paraibanos, têm, indiscutivelmente, a sua marca criadora.

    Esposo dedicado, pai extremoso, cidadão e homem público íntegro, decorridos dez anos de sua morte, a Paraíba ainda não lhe perpetuou a memória excelsa, com a histórica dimensão do seu legado e a reverência da posteridade aos verdadeiramente grandes paraibanos.                


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