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  • Ilusório orgulho

    01/08/2013

    Recente descoberta de ocultas nascentes constatou que o Amazonas não é somente o maior rio do mundo em volume d’àgua, porém também em extensão e número de afluentes, com mais de mil em ambas as margens, assegurando ao Brasil o capricho de possuir, entre outras superioridades naturais, a mais vasta bacia hidrográfica do planeta.
    A primazia mundial recentemente reconhecida, na verdade, contraria antiga e batida lição de nossa geografia escolar, segundo a qual era o Nilo do Egito o detentor dessa grandeza, além de ressaltar sua fluente navegabilidade, por todo o curso, em todas as épocas do ano, o que não acontece com o rival africano.
    Elevado a essa categoria o velho e fascinante “mar doce”, a serpentear pela maior e mais densa floresta tropical existente, preserva uma vegetação hídrica única e um imenso viveiro de espécimes aquáticos, compondo incomparável biodiversidade. Afora isto, oferece, de resto, a beleza inefável dos lagos adjacentes, e de seu estuário, com o raro fenômeno da pororoca – o estrepitoso encontro das águas fluviais com o oceano – ouvido a quilômetros de distância.
    Devido ao majestoso caudal e à diversidade ecológica a hiléia amazônica tem servido, até hoje, de principal motivo de nossas parolagens acerca da suposta e insuperável riqueza ambiental brasileira. De outro lado, no cenário internacional, continua sendo considerada zona remanescente de uma fauna e uma flora singular sob cujas matas repousam inexploradas e cobiçadas reservas geológicas, inclusive petrolíferas, comprovadamente encontradas no Alto Amazonas.
    Certamente a opulência em potencial desse vasto quadrante das terras brasileiras, tido como “o pulmão do mundo” e conquistado a oeste do meridiano de Tordesilhas dos vizinhos sul-americanos, pela habilidosa diplomacia colonial, guarda infinitas preciosidades, acima de qualquer cálculo estimativo, mesmo em trilhões de dólares.
    Sabe-se, pelo menos, da exuberância ali predominante, nos reinos vegetal, animal e mineral, de belas aves e criaturas ainda não classificadas, incontáveis plantas medicinais, da miríade de metais nobres, inclusive ouro e prata, ainda intactos e de todo um cabedal ímpar da natureza, no seu mais estuante e pomposo espetáculo.
    Além disso, todos sabem que, apesar do descontrolado e lancinante desmatamento, sobretudo pelo braço estrangeiro na exploração mercantil da matéria-prima, exportada, a mancheia, por multinacionais da indústria resinal e farmacológica, a nossa selva ainda pode contribuir para salvar a humanidade do cataclísmico aquecimento global.
    Contudo do ponto de vista utilitário e sócio-econômico, essa Canaã dos novos tempos, quase totalmente devoluta, verdadeiramente nossa há séculos, em nada contribuiu para melhorar a vida do brasileiro ou mitigar a pobreza, a miséria e a desigualdade social de nosso povo, senão para inflar um peito patriótico de ilusório orgulho, exatamente aquele dos encantos do futebol canarinho e das escolas de samba do nosso animado carnaval.
     


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