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  • O fatídico 26/07/1930

    24/07/2013

    Chamado muito cedo a palácio o jovem auxiliar apressou-se a atender à convocação do presidente João Pessoa, cioso de suas responsabilidades de porta-voz do governo e integrante de sua cúpula, por dirigir um jornal oficial, o de maior circulação do Estado, naqueles dias de grave e acirrada turbulência política.
    Era 25 de julho de 1930, véspera da morte do governante, abatido, oportunistamente, em Recife, pelo advogado João Dantas, quando distraído e indefeso, compartilhava, com amigos, um chá na confeitaria Glória.
    A capital amanhecera em franco rebuliço, com inflamados grupos de liberais e perrepistas, em manifesto confronto verbal nas ruas e esquinas do centro, principalmente sob o impacto das últimas medidas do governo.
    No gabinete, após cumprimentos, disse-lhe o presidente, em tom informal, porém de comando:
    - Dr. Osias, vamos continuar o ataque veemente, sem tréguas e sem perdas de oportunidades, principalmente, sob a prova de documentos autênticos, os quais são verdadeiros recibos da sordidez de que são eles capazes... Essa gente não tem a mínima autoridade moral prá se insurgir contra o governo!
    - Mas presidente, não acha que a publicação das cartas, às mãos de V.Exa., foi algo muito afrontoso porque violou o sigilo de uma correspondência pessoal. Afinal, já usamos uma linguagem panfletária, excessivamente, violenta, considerando que “A União” se trata de um jornal oficial – ponderou o diretor, com os olhos fitos no estadista, a quem era, decididamente, fiel e solidário.
    - É, mas é necessária. Guerra é guerra - redarguiu-lhe o presidente e completou: - Precisamos mostrar, visceralmente, o tipo de gente que, injustamente, nos atassalha e qual o destino que tem dado aos recursos federais na Paraíba, desviados para fins políticos e compra de armas, em criminoso e venal prejuízo dos interesses do povo.
    - Tenho receio, presidente, sinceramente, de que a publicação de tais cartas, encontradas pela polícia no escritório de um correligionário dos adversários, o Dr. João Dantas, tenha sido a gota d’água, com o sacrifício de nossas vidas, responsáveis direitos pelos acintosos gestos de ousadia – atalhou Osias.
    Assinados os papéis do despacho, João Pessoa acrescentou: – Sei que não se trata de tibieza sua, pois antes de lhe confiar a direção do jornal
    tive plena ciência do seu talento e coragem prá enfrentar esse desafio, por isso sei que estas palavras revelam somente fiel preocupação com minha vida, pois afinal, sou o único responsável por todas as eventuais conseqüências.
    E, quebrando a seriedade, com fisionomia descontraída, disparou, gracejando, surpreendente: - E quer saber de uma coisa, Dr. Osias, nesta luta eu mato ou morro, ou seja, corro pro mato ou corro pro morro...! Noticie amanha a minha viagem a Recife, ressaltando, porém, que regresso sem demora.
    Esta história contou-me, mais de uma vez, meu avô Osias Gomes, sempre impressionado com a coragem e determinação do dirigente e sua indiferença aos perigos da contenda, mesmo num momento crítico, a ponto de brincar com as ciladas soezes do destino, jamais acreditando no iminente e trágico desfecho.
     


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