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  • Marcos Feliciano, um talentoso contador de histórias

    25/10/2015

    Entre os privilegiados talentos da geração de ouro que dominou a cena estudantil dos anos setenta, na Faculdade de Direito da UFPB, destacava-se a figura carismática de Marcos Feliciano Pereira Barbosa, desde então um palrador e envolvente contador de histórias e estórias, no estilo do grande escritor e memorialista em que notoriamente se converteria.

    Nenhum colega contemporâneo deixou de se comprazer, ouvindo e testemunhando, nos corredores, na sala de aula ou nos jardins da Faculdade, as narrativas inteligentes e espirituosas ou, quando nada, as tiradas súbitas e hilariantes, produzidas, até diante da surpresa trivial, pela verve encantadora de Marcos Feliciano, livros a braços, sempre cercado por circunstantes, seduzidos com a prosa imperdível, nos intervalos do curso jurídicos.

    Principalmente do cenário rupestre e da ambiência da vida campesina eram os personagens protagonizados, com a voz e gesticulação arremedados da legítima oralidade matuta, traduzidas assim nas peculiares manifestações pelo engenho do novo e apaixonado intérprete de nossa íntima regionalidade e seus costumes cheios de aventuras e desventuras.

    Toda essa dramaturgia fermentada por uma admirável maturidade literária, restaria, afinal, consagrada nas páginas ficcionais de “Vazantes”, uma estilosa e fantástica novela, povoada da efervescente fabulação e das tintas multicores com as quais, um dia, urdiram suas tramas os gênios de José Lins do Rego, José Américo e Graciliano Ramos. O personagem Bastião, por exemplo, tipifica o sertanejo em toda sua grandeza de virtudes e de generosa índole, inarredável, entretanto, quando desafiado a mostrar coragem ou solidariedade humana, em momentos inesperados da vida. Essa a lição dominante fluida de suas entrelinhas.

    Esse evolver de sentimentos, próprio da criação notável, revela-se contudo lapidado, na obra recente intitulada “A rede do quarto do meu pai”, onde verte o autor toda a febricitante admiração e idolatria pela figura paterna, um ser humano especial e realmente forrado por raras virtudes, recordado com seus muitos “causos” em páginas tocadas de nostalgia, graça e senso de humor, absolutamente comparáveis às melhores produções do gênero.

    Atrasou o relógio a passagem do tempo em Marcos Feliciano, favorecido, ontem como hoje, pelo magnetismo pessoal, capacidade de trabalho e o preclaro conhecimento dos livros e da vida, trilada com honradez e tenacidade nos cargos públicos exercidos e na convivência familiar, construída em parceria com Liliane, a sublime companheira e incentivadora de todo o seu humano e artístico trajeto. Tem induvidosamente esse imaginoso escritor muitas outras histórias e estórias a contar, dormentes nos refolhos da criação cerebral, com o lacre da simplicidade e pureza, própria dos espíritos qualificados.

     


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