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  • “Minha Terra” e a paixão telúrica de Botto de Menezes

    11/06/2015

                     Versado em muitos saberes, aprendido em muitas filosofias, desde a mocidade impulsiva e devotada a memoráveis cruzadas cívicas o político, tribuno e escritor Antônio Botto de Menezes personificou uma época, com a notoriedade do peregrino talento, comprometido somente com o bem coletivo e o imenso amor pela terra natal.

                Herdeiro da consanguínea nobreza paterna flameja em toda a história desse eminente paraibano um verdadeiro hino de glorificação ao berço nativo, entoado sob os mais variados ângulos de sua fecunda vida política e cultural, sobretudo no jornalismo, na liderança partidária, na advocacia e no exercício dos cargos públicos.

                O saliente traço de uma biografia com tamanho apelo mesológico, viceja a partir de “A União” e, logo depois, de “O Combate” quando, já integrado à intelligentsia  juvenil da época, assumira a liderança oposicionista ao poder dirigente local, com a mesma e insopitável rebeldia oposta um dia ao infame decreto governamental resultante no exilio definitivo de Augusto dos Anjos para outras plagas.

                No itinerário da atribulada carreira pública, como chefe do partido Republicano Libertador e parlamentar na Assembleia Legislativa e depois na Câmara Federal, não somente professava um culto perene a figuras pontificais de nossa história, sugerindo-lhes  homenagens condizentes e duradouras, mas também e invariavelmente se batia, com a eloquência do seu verbo incendiário, pelo bem material coletivo, pleiteando rodovias, escolas, hospitais e proteção institucional aos menores abandonados, em projetos de irrecusável visão futurista.

                Mas é no romance memorialista “Minha Terra – Memórias e confissões”, escrito e publicado no Rio de Janeiro em 1944, quando expatriado do torrão dileto onde verte a confissão da mais saudosa e profunda paixão telúrica pelos pagos de origem, realçando sua virtuosa e predestinada vocação de “gerar gigantes e heróis”. Uma bela declaração de um filho intelectual por sua terra-mãe.

                Salta aos olhos, com efeito, o agarradio atávico que atormenta Antônio Botto de Menezes nas páginas do reminiscente compêndio, algo sobrelevante à própria narrativa dos feitos pessoais e ao recorte biográfico do livro sobre tão gloriosa vida, com esmerilhada descrição histórico-geográfica da pequena e inefável Paraíba, desde o período colonial às refregas do Estado Novo, dos arrecifes do Atlântico à singularidade climática dos sertões fronteiriços, culminante numa das mais completas e romanescas obras do gênero em nossas letras.

                É lamentável, contudo não mais existir o imponente solar onde residiu o grande paraibano, falecido em 1971, palco de tertúlias e decisivos episódios históricos, no Bairro de Mandacaru, hoje Av. Walfredo Leal, identificado outrora por suas linhas clássicas, o prolífico arvoredo ao derredor, mas principalmente pela referência ao ilustre proprietário e, no entanto, demolido pela mediocridade alheia e indiferente nos tempos hodiernos aos símbolos maiores da história de um povo.

     

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