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  • ‘Ali mora Zé Américo- Um super-homem‘

    03/02/2015

     Nos passeios domingueiros pela orla de Tambaú, na década de setenta, mostrava-me sempre o saudoso avô Osias Gomes, com expressivo entusiasmo, a casa onde residia o ministro José Américo de Almeida, então o mais insigne paraibano vivo, um prédio referencial entre os casarões da Avenida Cabo Branco.

    O tom admirativo, no entanto, não se devia à imponência e arquitetura clássica do solar à beira do Atlântico, onde se refugiara definitivamente “o solitário de Tambaú”, recolhido ao remanso do berço natal, depois de jornadear pelos mais altos escalões políticos, administrativos e culturais do país, mas ao aclamado paladino, sobre o qual completava o destaque exclamando categoricamente: “Um super-homem!”.

    Em que pese o conhecimento, após a adolescência, dos livros e da importante trajetória do excelso conterrâneo, principalmente pela leitura deleitosa de “A bagaceira”, o marcante e inaugural romance do modernismo literário pátrio, orientado exatamente pelo mestre-avô, supunha que tamanha louvação resultasse de sua antiga e empática relação humana e intelectual, desde os prélios de 1930, com o grande escritor e líder político, tendo ambos compartilhado memoráveis eventos da história paraibana, o velho Osias inclusive como secretário de estado de seu governo.

    Irresignado, um dia ao suscitar o bordão, com o mesmo ímpeto e reverência, indaguei-lhe, curiosamente: Por que um super-homem?

    - Porque é uma estátua viva, de extraordinárias personalidades amalgamadas, jamais antes vistas ou reconhecidas num só homem público brasileiro – respondeu e continuou: - A esse respeito, certa feita, questionou-me Celso Mariz, objetando tratar-se de apologia exagerada, diante de tantos e tão fulgurantes vultos do Império e da própria República, mas lhe fiz observar que nenhum, nem mesmo Epitácio, reunira a grandeza multifária de estadista, escritor e pensador com tão completa obra e espetacular dimensão como o fenômeno José Américo.

    Era notório sábio, segundo a espontânea lição, a um tempo aristocrático e popular, dono de aliciante poder de manifestação verbal e do mais belo estilo literário. Ilibado e inatacável gestor público de raríssima visão executiva e sociológica, estadista perfeito e clarividente, único premiado pelo destino com o dom de consorciar a artística inteligência criadora aos meios políticos e construtivos do bem coletivo.

    Reportando-se às balsâmicas medidas do seu governo lembrou a construção de inúmeros açudes e até a distribuição avulsa de víveres às

    populações carentes, além do famanaz dístico “vamos fazer a política dos pobres que a dos ricos já está feita”.

    Ante o vivo e inconteste testemunho, sem mais nada dizer nem lhe perguntar, afirmei com meus botões: Um super-homem!


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