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  • A figura paterna e a idolatria filial em notáveis

    19/01/2015

     Desde os povos primitivos pulsa entre os sentimentos humanos uma acendrada e referencial admiração, observada em todas as culturas, pela figura familiar do pai, esse provedor instrutivo e alimentar transformado, quase sempre, pela memória sensitiva, em venerado e incomparável ídolo.

    A habitual exaltação derivou do costume, ainda encontradiço, segundo o qual, nos lugares nativos, eram as pessoas comumente conhecidas pela referência ao prenome paterno, a exemplo de Cristo, vezes referido no relato bíblico, como “Jesus, filho de José”.

    Tão importante identidade individual assegurou, em todas as épocas e continentes, a predominância da chamada sociedade patriarcal, onde a presença e autoridade senhorial do chefe de família tem distinguida e decisiva influência na vida da estirpe e de sua descendência. E, de fato, tem o progenitor um merecido e singular destaque no íntimo de qualquer filho, inclusive órfãos ou eventualmente afastados de sua convivência doméstica.

    Tamanha é a repercussão desse elo genético que em todos os recantos civilizados do mundo, ainda hoje, importa honroso conceito social o reconhecimento da paternidade, em favor da prole legítima, incestuosa ou adulterina, de modo a possibilitar a aquisição do alusivo sobrenome e dos direitos hereditários.

    Nos grandes artistas, escritores, cientistas e outros espíritos qualificados o decantado orgulho filial ganha proporções inimagináveis e até fantasiosas pintando, em obras consagradas, o retrato indefectível de um pai cheio de virtudes e grandezas modelares, paradigma único e inafastável até mais genial e esplendoroso do que o próprio autor.

    Para Luis Gonzaga, o rei do baião, ninguém foi maior sanfoneiro do que Januário, com seus oitos bastos, enquanto outro rei, o nosso Pelé afirma, sem meias palavras, que “não se compara, nem de longe, a seu Dondinho”, na verdade, um jogador sofrível, somente lembrado pela fama avassaladora do inigualável rebento. Franz Kafka, o grande romancista tcheco, no comovente “Cartas ao pai”, revela semelhante e idólatra paixão, de par com o melancólico Augusto, comprometido, num belo poema, a trilhar as mesmas e doloridas ruas do inesquecível ascendente.

    O irresistível fascínio, despontado noutros gêneros da arte, se reveza no cancioneiro popular nas maravilhosas vozes de Altemar Dutra, Roberto Carlos, Fabio Júnior e Sergio Bitancourt para o qual “naquela mesa tá faltando ele”, tudo, enfim, a revelar um incontido e natural

    arrebatamento pelo mítico e insubstituível herói da ilusória e sentimental imaginação pueril.


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