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  • O sábio e incorruptível Álvaro de Carvalho

    10/12/2014

    Um dos maiores intelectuais paraibanos de todos os tempos, filósofo e mestre-escola, autor de vários e importantes livros, Álvaro de Carvalho exerceu altos cargos públicos, como secretário de estado, deputado federal e, interinamente, governador da Paraíba, mas viveu e morreu pobremente, tendo, no final da vida, de ministrar aulas particulares de inglês para sobreviver.

    Originário de Mamanguape esse extraordinário e incorruptível homem da política e de letras, moldado por raro caráter e espírito público, ao longo de toda sua carreira, seja no executivo, no parlamento, seja no magistério, jamais se afastou, a nenhum interesse ou vantagem pessoal dos princípios e virtudes singulares indispensáveis a uma biografia verdadeiramente admirável!

    Filho de barbeiro humilde se iniciou na profissão paterna, mas logo cedo despertou ao universo do saber, entregando-se, de corpo e alma, ao apaixonado estudo do direito e de múltiplas ciências até, vencendo enormes dificuldades, lograr o título de bacharel em direito na faculdade do Recife, em 1912, sendo, no ano seguinte, nomeado lente de italiano do Lyceu Paraibano.

    Com notória pureza e simplicidade apostolar de gestos e palavras, nunca ostentou a jactância de falar e escrever fluentemente vários idiomas e de discorrer com impressionante mestria e desenvoltura não somente sobre os segredos da ciência jurídica, da filologia e das artes, porém, com o mesmo brilho e versatilidade, como nenhum outro autodidata do século XX no país, acerca dos mais diversos temas da sapiência humana, desde a física einsteiniana à psicanálise de Sigmund Freud.

    Dono de um único bem material – a casa modesta em que morou até a morte, a política, ao revés de tantos outros do seu tempo, não o cingiu de vaidosas pretensões, mas das marcas do sofrimento e do infortúnio. Eleito primeiro vice-presidente do estado, assumiu o governo, como substituto eventual do presidente João Pessoa, durante três ausências do titular, até que a 26 de julho de 1930 é investido em caráter permanente, após o crime da capital pernambucana, como tudo memorou no seu livro “Nas vésperas da revolução – 70 dias na presidência da Paraíba”.

    Destituído do cargo, súbita e inesperadamente, decerto por sua divergência à mudança do nome da capital em homenagem ao governante sacrificado, emigrou a longo ostracismo na cidade de Santos, em São Paulo, onde, dedicado ao jornalismo e ao ensino, mantivera uma retilínea e silenciosa conduta em relação à nova ordem governamental, somente regressando uma década depois cercado do respeito e admiração dos

    conterrâneos, para reassumir sua cadeira no Lyceu Paraibano em que se aposentou, com parcos e aviltantes proventos.

     


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