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  • Juros, política, recessão e inflação

    25/01/2016

     Como agir entre duas ameaças: a de incremento do processo inflacionário e a de um aprofundamento da recessão? Diante da dura decisão, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu enfrentar a primeira.

    Decisão tomada, por seis votos a dois, os membros do Comitê mantiveram as taxas de juros em 14,25%. Terminou pesando outra ameaça, esta, na forma do risco de uma piora da crise externa, e das projeções do FMI, para pior, do PIB brasileiro, este ano.

    Na verdade, não há quem seja capaz de afirmar com certeza qual a melhor medida para que a economia nacional caminhe por linhas menos perigosas. Os pitacos são muitos, porém, as dúvidas, também.

    Quem acompanha as projeções e análises e críticas dos versados em economia é capaz de observar, ao longo do tempo, acertos e erros distribuídos indiscriminadamente entre as diversas correntes do pensamento econômico, alicerçadas, não raramente, em vieses políticos.

    Após a decisão do Copom percebe-se nítida contrariedade da parte daqueles que esperavam juros mais altos, e um alívio entre os que torciam contra isso. Uns dizem enxergar menos problemas na recessão, e, mais, na inflação; os outros, exatamente o contrário.

    Política
    O governo, por exemplo, teme que a recessão, que provoca desemprego em massa, retroalimentando o processo recessivo, aprofunde ainda mais a crise política em que o país está metido, tornando a situação da presidente Dilma ainda mais difícil do que está, agora.

    Embora saibamos, e isso independe de corrente, que a inflação também provoca danos à credibilidade do governante de plantão, pois carrega com ela uma carga de desilusão enorme em meio ao povo.

    A opção pela maior oferta de crédito, claramente, a opção do governo, mesmo com risco inflacionário, tem a ver com a tese do desenvolvimentismo, a qualquer custo. Um PIB menos negativo, ou, quem sabe, positivo, no final de ano, seria a compensação.

    Manter os níveis de crédito, e, quem sabe, aumentar o acesso a ele, são as apostas que claramente o governo faz agora, o que convenhamos pode mesmo contribuir para, pelo menos, a manutenção dos empregos, com o incremento à produção.

    Há, com a proximidade do retorno das atividades parlamentares, a partir de 02 de fevereiro próximo (embora o conveniente seja apostar para uma data imediatamente após o carnaval), a possibilidade de retomada do processo do impeachment. Isso atormenta o Planalto.

    Pressão
    É certo que o impeachment padece nesse instante de certo recolhimento, tanto por conta da decisão do STF sobre o seu rito, como, ainda, em virtude das acusações que pesam contra o seu principal patrocinador: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

    A maior expectativa dos oposicionistas é com relação ao que vai acontecer nas ruas. A torcida da oposição vai toda na perspectiva de mais protestos numa proporção tal que torne incapaz outra posição dos parlamentares que não seja o impedimento da presidente.

    Do outro lado da corda, o governo há de fazer o possível e o impossível para evitar que haja um recrudescimento dos protestos, justamente para evitar essa pressão irresistível sobre os deputados, mormente às vésperas do pleito municipal.

    Portanto, a decisão do Copom acontece cercada de suspeitas de ter sido tomada sob pressão política do Planalto. E há razão para suspeita. Como também há razão para suspeita de que a torcida para o aumento de juros tenha viés político.

    São estes os tempos bicudos produzidos pela imensa crise política em que estamos mergulhados. E vai seguir desse jeito, em função de um país completamente cindido politicamente, do seu extremo Norte ao seu extremo Sul.


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