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  • 31.10.2023 - 06:59

    Polícia italiana desmente Alexandre de Moraes


    O bate-boca entre os parentes de Moraes e Mantovani no aeroporto de Roma não passaria de um simples incidente entre integrantes da mal educada elite brasileira, não fosse uma delas a insigne família de um ministro do STF, Alexandre de Moraes, que se tornou xerife todo-poderoso em defesa de si e do supremo. Mexeu com um ,mexeu com todos. Ninguém solta a mão de ninguém.

    Num vídeo filmado pela família dos mortais, Moraes, o grande, aparece ao lado do filho, chamando o antagonista de bandido e ameaçando. “Você vai ser processado”. No mais belo estilo de briga de compadres, como a dizer: a minha careca é maior do que a sua.

    O Ministro afirmou que foi agredido, ele e sua família, e pediu abertura de inquérito, o que aconteceu de imediato. Tão imediata quanto inédita foi a operação de busca e apreensão na casa dos supostos agressores. Assim como outros inquéritos comandados por Moraes, este também está cheio de ineditismos e estranhezas desde o início.

    Moraes usou e abusou de seu poder quando se tornou juiz universal de todas as causas envolvendo Bolsonaro. Algoz implacável do ex-presidente, Moraes se tornou ídolo de uma parte da população que cultiva ódio contra o capitão. Mesmo agredindo leis menores e até a Constituição, ele se tornou protagonista dentro do STF, com a narrativa de defender a democracia contra quem queria dilapidá-la. Mesmo que essa defesa fosse feita ao arrepio das leis.

    Passada a refrega, o período de excepcionalização constitucional, implicitamente aceito para a derrocada do mal maior, esperava-se que voltássemos à normalidade, já que a democracia estava, enfim garantida. Como quem nunca provou do mel, quando come se lambuza, Moraes não se desacostumou das arbitrariedades. Os “atos antidemocráticos” ainda clamavam por seu autoritarismo, que contaminou até a PGR, efetivando denúncias, “embora sem provas” individualizadas.

    Até então, era em defesa da democracia, da pátria que os patriotas queriam arrebatar. Agora, é em interesse pessoal e de sua prole. O filho, já um rapagão, ainda demandava por proteção paterna.

    Ao enfrentar os imortais, a família Mantovani negou as agressões. Sem prova, material, seria uma disputa de narrativas, pendendo a favor do ministro, que tem fé pública. Uma discussão pública, em pleno aeroporto, nesta geração tik-tok, como não apareceram imagens para corroborar uma ou outra versão? Restavam as imagens do aeroporto, que foram solicitadas às autoridades italianas.

    O inquérito, sob a relatoria de Toffoli, esteve sob sigilo. Mesmo quando veio a público, mantiveram-se sob sigilo as imagens que vieram de Roma. Alega Toffolli, em defesa do sigilo, a proteção da privacidade. Mas como???

    Mais uma fila de estranhezas no meio do caminho. Um agente da Polícia Federal (por que não um perito?) foi designado para avaliar as imagens, que vieram sem som. A conclusão era inconclusiva, cheia de “pareces” e “aparentementes”. Mas o delegado que preside o inquérito não se fez de rogado: “Roberto Mantovani Filho e Andrea Munarão provocaram, deram causa, e possivelmente, pelas imagens, podem ter ofendido, injuriado ou mesmo caluniado” o ministro e seu filho. Sem som, não consta que houve leitura labial.

    Por determinação do diretor da PF, a corregedoria abriu sindicância para investigar o presidente da Associação de Peritos Federais, que questionou o fato de avaliação das imagens não terem sido feita por perito. E, mesmo assim, foi apresentada como prova pericial. Andrei Rodrigues, segundo a Veja, teria feito chegar aos peritos que eles estariam ajudando a defesa dos agressores (seria antecipação de julgamento?).

    Mais coisa. Morais e sua família e pediram e passam a figurar como assistente da acusação. Mesmo com a ponderação da PGR, de que não cabe assistente de acusação na fase de investigação. Toffoli, claro, postou-se ao lado de seu colega, suscitando suspeita de corporativismo, dando razão a mais um ditado popular: “o uso do cachimbo entorta a boca”. Foi Toffoli, quando na presidência do STF, que designou Moraes (sem sorteio), para presidir um inquérito (de ofício) e sem a participação da PGR, numa agressão ao sistema acusatório, figurando o mesmo ente como vítima, investigador, acusador e julgador.

    Como o orégano da pizza, relatório dos policiais romanos retira os ingredientes de gravidade do incidente, restando só a massa da iguaria italiana. Segundo o relato policial dos estrangeiros, o único contato físico digno de nota foi quando, certamente exasperado pelas agressões verbais, o filho de Moraes elevou a mão próximo da nuca de Mantovani. E este, numa reação automática, fez o mesmo gesto, simultaneamente, com o braço direito, que “impactou levemente os óculos” do filho do Ministro.

    Vamos entender o amor filial, a proteção paterna, mas daí a usar todo o aparato do STF, Polícia Federal, operação de busca e apreensão, solicitação de imagens a um pais europeu. É muita energia, é muito recurso, é muita gente, apenas para afagar a vaidade de quem se sentiu agredido. Nós todos pagando por isso. Seja no gasto dos recursos orçamentários, seja no exemplo da continuidade do mandonismo. Sabe com quem está falando?

    Luciano Cléver

    Luciano Cléver

    Jornalista formado pela UFC, em 1988, coordenou o núcleo de comunicação da Caixa por 18 anos, trabalhou como repórter na Gazeta Mercantil, no Diário do Nordeste como secretário de redação, editor do jornal Expresso do Norte (Sobral), foi editor do portal do Sistema Paraíso. Está à frente do programa de rádio Café com Cléver, veiculado na rádio Paraíso FM (Sobral). E nas redes sociais (Youtube.com/@cafecomclever). É comentarista na TV União. Cristão, apaixonado por cinema, vinho e xadrez.
     
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