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  • Tradição, ética e trabalho em Piancó

    21/03/2015

     Descendia o dr. Elzir Matos em linha reta do casal PEDRO LEITE FERREIRA E ISABEL GOMES DE ALMEIDA, mandados pela Casa da Torre, da Baía, para ocupar terras e fundar fazenda de gado na ribeira de Piancó, em 1755.

    A linhagem estendeu-se com o primeiro João Leite Ferreira, (comandante), nascido no final do Século XVIII, casado com Antonia José de Sousa, que adquiriram por compra à Casa da Torre as propriedades “Campo Grande” e “Almas”. Do casal nasceu Tiburtino Leite Ferreira casado com Violante Mariana da Silva, pais de Francisca Leite Ferreira que casou, em primeiras núpcias, com o dr. José Matos de Sousa Rolim, da vizinha cidade de Cajazeiras, juiz de direito da comarca de Piancó, depois de Pombal.
    Tiburtino Leite Matos Rolim, nosso pai, fruto daquela união conjugal, a última referida, casou com Natércia Nogueira da Costa, de importante família do vizinho Estado do Rio Grande do Norte, cujo primogênito Elzir, nasceu em Mossoró, no aristocrático sobrado do avô materno, que existe no Jardim da União Caixeiral, (oficialmente denominada Praça da Rendenção) onde funcionava o curso de contabilidade mercantil freqüentado por Tiburtino. Seria ele, Elzir, o futuro bacharel em direito e homem público influente na vida política e administrativa da Paraíba.
    Vale a pena rever a descrição da valorosa prosápia, no Cônego Florentino Barbosa, do Instituto Genealógico Brasileiro e fundador do Instituto Genealógico Paraibano, seguido pelo padre Manoel Otaviano, do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba e da Academia Paraibana de Letras, acima citados, cujos comentários e registros nos apóiam, e teremos em linha ascendente:
    Elzir filho de Tiburtino:
    Tiburtino filho de Francisca;
    Francisca filha de Tiburtino;
    Tiburtino filho de João Leite;
    João Leite filho de Pedro Leite Ferreira e Isabel Gomes de Almeida, que nos idos de 1755, fixando residência na ribeira de Piancó, no lugar denominado Tapera, na margem direita do rio Genipapo, ali se dedicaram à criação de gado e à agricultura, como foi referido antes, e deu seguimento a extensa e valorosa descendência. Esta é a linhagem, documental, indiscutível.
    A participação da família Leite, nascida de Pedro Leite Ferreira e Isabel Gomes de Almeida, acima citados, cujos filhos fixaram-se em Piancó, Conceição e Teixeira, alcançou notável representatividade na vida política da Paraíba, por parentes em linha reta e colaterais e afins, permitindo-lhes galgar posições de destaque, chegando ao governo do Estado, ao Senado da República, à Câmara dos Deputados, à Assembléia Legislativa, Prefeituras Municipais, Secretarias de Estado e cargos executivos de reconhecida importância e influência na condução dos negócios da administração pública.
    A busca de dados e informações sobre famílias e pessoas, e sobre fatos a elas relacionados, gosto de repetir, reveste-se de evidente caráter sociológico, alcançando a História, que, na afirmação do filósofo Giambatista Vico, deixando de lado explicações teocráticas, é verdadeiramente obra do homem. Vasta bibliografia sustenta esta afirmação, na literatura e na pesquisa histórica nacional e estrangeira. Esta a origem da história de reis e de estadistas, de caudilhos e democratas no exercício de suas atividades políticas, advindas de sua origem, concepção filosófica, vocação e responsabilidade.
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    O prestigio dos Leites resta explicitado em notas, diagramas, tabelas e demonstrativos, redigidos por Linda Lewin, em “Politics and Parentela in Paraíba” © Princeton University - tradução André Villalobos – Record 1993, antes referido, e evidenciou-se ao se tornarem “dirigentes do Partido Liberal desde a sua fundação, no final da década de 1830, pelo coronel João Leite Ferreira (o primeiro, falecido provavelmente em 1848) e pelo comendador Felizardo Toscano de Brito (falecido em 1876)”, este, sogro do dr. João Leite Ferreira que o substituiu na chefia partidária assegurando a preponderância do clã no cenário político do Estado.
    A tradição familiar e a vinculação à luta local, as respon-sabilidades, compromissos e deveres que lhe impunha a progênie, levaram Elzir, concluído o seu curso de Direito no Rio de Janeiro, à Prefeitura, o encaminharam para a vida pública, marcaram o seu caráter franco e leal, a dedicação à sua família e à sua gente.
    Chegou dr. Elzir, ao longo de sua carreira, a ocupar por seis vezes secretarias do governo da Paraíba, e posições importantes na administração federal como presidente do Banco Nacional de Crédito Cooperativo, na Procuradoria Jurídica da Caixa Econômica Federal, na Confederação Nacional da Agricultura.
    Representou o Brasil em encontros internacionais junto a OIT (Organização Internacional do Trabalho), em Genebra, Suissa, instituição filiada a ONU (Organização das Nações Unidas), apre-sentando teses relacionadas com os temas discutidos que cons-tavam da pauta dos trabalhos.
    Como Secretário de Estado, nas pastas da Agricultura, da Fazenda e de Viação e Obras Públicas, nos governos Pedro Gondim, José Fernandes de Lima e Wilson Braga, Secretário Chefe do Escritório do Governo da Paraíba no Rio do Janeiro, no Governo João Agripino, registrou uma presença ética, marcando pela sua com-petência a modernização do modelo administrativo que implementava, e o volume de realizações, de serviços que ainda hoje existem, que perduram e são referências obrigatórias, relacionadas com a eficiência do aparelho público estadual.
    A admiração pela sua íntegra conduta de cidadão na vida pública e privada, tornou-se fato reconhecido e emblemático na so-ciedade paraibana. Os ex-governadores que o tiverem participando de sua administração, prestaram ao longo do tempo, referências elogiosas, e esclarecedores depoimentos sobre o seu caráter e comportamento de homem público.
    Onde estivesse, o seu pensamento estava voltado para Piancó, com um amor e fidelidade jamais superados.
    Preparava-se em entusiástica campanha eleitoral comentada em todo o Estado, para disputar um mandato de deputado federal, tida como certa a sua eleição, quando faleceu inesperadamente. Caravanas de políticos, comitês já se formavam no Vale do Piancó, na capital do Estado e em outras regiões, celebrando reuniões e encontros na for-mação de uma ampla frente de apoio à sua candidatura.
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    Tratemos, rapidamente, da passagem do Dr. Elzir na prefeitura de Piancó, que o projetou no cenário político estadual e nacional, entre outros destaques por haver ele conquistado para Piancó o reconhe-cimento de ocupar na sua gestão, o primeiro lugar entre os municípios brasileiros, que melhor resultado apresentaram no seu crescimento econômico e modernização administrativa. Tal fato, se representava uma distinção para ele, significava também uma demonstração da capacidade de trabalho da população, da unidade popular sob sua esclarecida liderança e na colaboração dos piancoenses com os pro-jetos voltados para o interesse coletivo.
    A entrada do dr. Elzir na cena política, a despeito do favo-recimento de circunstâncias familiares que o ajudaram, acontece como expressão legítima e característica de suas idéias voltadas para a modernização dos costumes políticos, para o desenvolvimento local, em sintonia com o novo desempenho dos homens públicos, revelando que, naquele período (anos Cinqüenta do Governo JK, criação do Banco do Nordeste e da SUDENE) “as coisas mudaram tanto no Nordeste – como o vaticinara Jean Blondel – que a Paraíba passou de espectadora a atriz e de recipiente a protagonista”. Tudo na precisa análise do Professor José Octávio de Arruda Melo no seu ‘PODER POLÍTICO NO NORDESTE – O Caso da Paraíba 1945/1964”, Editora Universitária 2001, pág. 138, o que se aplica à conjuntara do Vale do Piancó, pode-se afirmar.
    Daí o seu destaque, o reconhecimento de suas qualidades de administrador, de sua conduta ética. Galgou posições de relevo nos altos escalões do serviço público estadual e nacional, sempre em nome dos seus amigos, honrando o seu querido Piancó.
    O povo não esqueceu o grande líder e homem público desa-parecido prematuramente, tanto que ainda hoje o homenageia em todas as solenidades locais, nas escolas e nas conversas de rua e em família, encontrando sempre uma oportunidade de referir o seu nome.
    A propósito, os jornais O NORTE e A UNIÃO, de 18/10 e 21/10 de 1959, respectivamente, registram entusiásticas e festivas homenagens prestadas pelos piancoenses – presentes as suas auto-ridades civis, militares e eclesiásticas representativas – ao dr. Elzir Matos, na denominada “Festa da Gratidão”, com solenidades oficiais, desfile escolar, confraternizações populares e entrega do “Diploma de Cidadão Piancoense” outorgado pela Câmara Municipal.
    A presença de representações de outros municípios do Estado, de mandatários de ordens civis, militares e religiosas, personalidades de outros centros afãstados, emolduraram as festividades com os seus pronunciamentos congratulatórios à data, revelaram a irradiação do prestígio e do destaque alcançados por Piancó e pelo dr. Elzir no cenário político estadual.
    Constituíram os fatos do dia verdadeiras celebrações e com-graçamento, em que todos se irmanavam, comemoravam a superação de barreiras que os separaram no passado, regozijavam-se com as alegrias do conterrâneo, do amigo, com o bem estar geral. Era um sentimento abrangente, do elevado patriotismo local. Os piancoenses guardam com orgulho a data memorável.
    É mister reconhecer um elenco de numerosas realizações, de elevados cargos públicos conquistados pela sua competência, e de ações patrióticas assumidas pelo Dr. Elzir Matos em defesa de Piancó, a exemplo da reativação que promoveu de sua industria algodoeira, com o aporte de recursos financeiros e reabilitação de sua Cooperativa Agrícola (Usina), entregues à reconhecida competência empresarial do piancoense Gil Galdino, trazendo nova perspectiva econômica para a região; o serviço de abastecimento de água; o fornecimento de energia hidrelétrica; a urbanização; a criação de políticas públicas de saúde e educação e outras ações de cunho social.
    A especificação dessas demandas de relevância para o desenvolvimento e liderança de Piancó na região, não caberia nesta breve matéria. Por esta razão, encaminhamos os estudiosos e a juventude, que buscam informações e conhecimento sobre a vida e as realizações deste homem-bom, para a consulta de documentos e dados precisos que estarão disponíveis nos arquivos públicos na Paraíba, e no Arquivo Geral de Piancó, instituição pública de natureza cultural, criada por lei de iniciativa do Prefeito Edvaldo Leite Caldas.
    As luzes intelectuais, os arquivos abarrotados de documentos do jovem intelectual Yurick Azevedo Lacerda e do escritor Clodoaldo Brasilino Filho, que sabem muito de Piancó, esclarecerão indagações e dúvidas porventura existentes.
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    Mas é preciso dizer que tudo começou, em termos administrativos e de renovação política, com a presença marcante do dr Elzir Matos na prefeitura. A utilização de energia hidrelétrica em Piancó (que vivia às escuras, com iluminação deficiente, sem disponibilidade para a indústria e para a agricultura), antes da chegada da CHESF aos nossos sertões, aproveitando a que era produzida pelas turbinas do açude Coremas, inteiramente ociosas, revelam a visão pioneira do Dr. Elzir, que foi adotada e seguida por todos os mu-nicípios da região.
    A partir desta espetacular realização, que contou com a ajuda do primo Cleantho Leite, um dos luminares do desenvolvi-mentismo, então diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, depois do Banco Mundial, a eficiência foi seguida do entusiasmo e apoio recebidos da população. Resultou noutras ações fundamentais para implementar a liderança de Piancó, que se fez sentir durante tantos anos na região, orgulhando a sua gente. Liderança que voltará um dia, com certeza. E todos esperam.
    Vale a pena esclarecer e ressaltar, que no período da gestão do dr. Elzir na prefeitura de Piancó, cidades como Patos, Sousa e Cajazeiras tidas como as mais desenvolvidas do sertão, tinham energia elétrica apenas durante algumas horas no período noturno, fornecido para as residências, indisponível para a agricultura e para a indústria; o abastecimento de água era precário e primitivo, o sa-neamento básico inexistia; as comunicações por telefone a curta dis-tância, eram feitas através de postos mantidos pelo poder público, pois não existia o serviço, a linha telefônica particular, individual.
    A cidade de Piancó espantava a Paraíba porque contava com todos esses e mais serviços públicos, mantidos em moderno e eficiente funcionamento. É realmente difícil imaginar este nível de desenvolvimento e destaque alcançado pelo município, dadas as dificuldades e a decadência, que têm obstaculado a administração mu-nicipal, relegando o velho Piancó à situação de menor relevância entre as demais cidades do histórico Vale do Piancó.
    Dr. Elzir faleceu acometido de insuficiência cardíaca. Seu coração parou de bater no dia 21 de junho de 1989, no seu aparta-mento, na capital do Estado, onde se encontrava em viagem rotineira. Contava sessenta e três anos. Foi sepultado no cemitério de Piancó, no jazigo da família, e, no seu descanso final é visitado por parentes e amigos, leais a uma amizade e admiração que perduram através dos anos. O município de Piancó e todo o Estado da Paraíba viveram momentos de profunda comoção com o inesperado da infausta notícia. Deixou um filho único, Fernando Antonio, formado em Geologia, residente em Brasília.
    As amizades que cultivou ao longo de sua vida reta e leal o reverenciam ainda hoje, a exemplo do escritor e parente Ascendino Leite, do alto de sua vivência de homem de notável saber, bem como humildes e exemplares figuras do povo como o desportista Tião Barbosa, na pureza dolorida de palavras amáveis, sentidas, saudosas quando falam do amigo que passou para a vida eterna.
    A presença viva da tradição administrativa do Dr. Elzir Matos revela-se ainda hoje no Parque de Exposição de Animais que tem o seu nome, uma realização sua quando Secretário da Agricultura, e na estrutura e organização da Fazenda Humaitá, de sua propriedade, onde passava a maior parte do seu tempo, hoje administrada pela viúva senhora Avany Queiroga Matos, exemplo de firmeza e competência no exercício de suas tarefas nas lides rurais..
    Piancó apresenta-se como um exemplo típico da movimentação da sociedade civil buscando caminhos, modelos e resultados, no cenário político paraibano.
    Na verdade, os fatos de cada aldeia, pela sua significação, passam a constituir, inegavelmente verdades universais, por se tratarem de fatos dos homens. Por estas e outras razões, desenvolvi esforços e redigi estas notas, recolhidas em textos autorizados e depoimentos respeitáveis, que registram as ações dos meus parentes, rebentos da família Leite, na vida privada e na vida pública de Piancó, da Paraíba e do Brasil, como seus filhos, seus representantes. -------------------------------

     
     
     
     
     


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