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  • Sobre intolerância e ódio

    14/04/2016

    Enquanto o Papa Francisco faz uma cabal manifestação pela compreensão entre as pessoas e apela para o respeito às diferenças, o Brasil vive um momento de intolerância e ódio ante o processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

    Ontem eu fui agredido verbalmente - e quase fisicamente - porque ousei divergir de um exaltado defensor do impedimento de Dilma. O detalhe curioso é que tenho o agressor como amigo. Porém, a intolerância falou mais alto e o sujeito estava lamentavelmente descontrolado.

    Desde 2010 estou afastado de mandatos eletivos e cargos públicos, com foco na advocacia. Mas continuo detentor da minha própria opinião sobre os variados temas políticos. Não conheço muro e digo o que penso. Respeito quem defende teses diferentes das minhas. E exijo o mesmo respeito em relação a mim. Em certo momento do embate verbal, perguntei ao ensandecido agressor se tinha votado na Dilma. Respondeu que não. Aí arrematei: então você perdeu a eleição e é melhor esperar 2018, você vai à urna, vota de novo e perde ou ganha. 
    Assim funciona a democracia.

    Qualquer um pode divergir do que vou escrever a seguir. Quem quiser se manifestar sobre o conteúdo, favor dirigir-se ao personagem que vou mencionar. Não a mim.

    Hoje o portal Uol publica entrevista com o ex-Procurador-Geral da República Roberto Gurgel, que atuou no rumoroso processo do "Mensalão. Perguntado se o processo de impeachment da presidente é golpe ou não, eis a resposta textual: "Eu acho que se coloca em relação ao impeachment uma falsa questão. (...) Evidentemente, há uma previsão constitucional sobre o impeachment. Então dizem: "ah, se está na Constituição, então não é golpe". Sim...Mas resta saber a utilização que se faz desse instrumento. Devo dizer o seguinte: a mim impressiona muito mal que começou-se a falar de impeachment imediatamente após a reeleição da presidente Dilma".

    O entrevistador insiste: "Essa é a sua impressão hoje"? Gurgel responde: "Acho que hoje surgiram outros fatos e o panorama mudou um pouco, mas esse vício de origem continua me impressionando e continua me colocando em dúvida se realmente estamos perseguindo um meio de corrigir crimes de responsabilidade e de responsabilizar a presidente por crimes de responsabilidade ou se estamos utilizando esse instrumento legal e constitucional com a finalidade de tentar reverter um resultado desfavorável na eleição". E mais: "Por mais que sejam graves e são gravíssimos todos esses fatos que estão surgindo, relacionados entre outros ao PT, até agora não há nada que se atribua diretamente a ela, salvo a questão das pedaladas fiscais".

    Eis uma opinião que converge com a lucidez e vem temperada pela sabedoria, livre de paixões políticas raivosas. Enquanto o procurador aposentado Gurgel, pela posição que ocupou, precisa ser mais contido, a tradução mais direta de suas afirmações é: terminada a eleição de 2014, a oposição, inconformada com a derrota nas urnas, empunhou a bandeira do impeachment, quando nem se falava em pedaladas fiscais. Quanto aos desmandos da Petrobrás, que os responsáveis sejam julgados e, sendo o caso, punidos. Mas não se pode transferir para a Presidente Dilma uma responsabilidade que ela não tem. E "não há nada que se atribua diretamente a Dilma", repiso o que diz o insuspeito Roberto Gurgel.

    Em conclusão, devo dizer que torço para que esse processo de impeachment seja encerrado o mais rapidamente possível, possibilitando que o povo brasileiro reencontre o caminho da paz, do entendimento e da convivência harmoniosa, respeitadas as diferenças de opinião e as ideias divergentes. Que os políticos respeitem sempre os resultados proclamados nas urnas, conferindo aos candidatos legitimamente eleitos o direito de cumprir com o mandato conquistado.


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