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A altivez e coragem de Mariz
08/09/2015
Os 20 anos da morte do ex-governador Antônio Mariz não passará no esquecimento. Familiares, amigos e correligionários já anunciaram uma série de eventos com o propósito de resgatar, principalmente às novas gerações, a atuação pública de um dos homens mais respeitados da história política paraibana.
O carinho e o respeito dos paraibanos à figura de Mariz não surgiu do acaso. De uma formação bem distante da tradicional ‘política assistencialista’, apostava numa atuação parlamentar centrada na educação e no respeito aos elementares princípios básicos do cidadão para formar mentes e transformar a sociedade.
A política de oportunidade para todos, de um Brasil socialmente justo, de uma Paraíba economicamente desenvolvida, de um povo alfabetizado e alforriado das pressões dos poderosos, eram os alicerces dos discursos e da atuação do saudoso ex-governador.
As palavras submissão e covardia não existiam no dicionário de Mariz. Da primeira vez em que teve seu nome lembrado para comandar o destino dos paraibanos, em 1978, em processo de escolha indireta, e foi preterido pelo seu próprio partido, na época a Arena, ele deu a resposta de altivez e coragem aos que apostavam no servilismo:
- Não quero entendimentos com os donos do poder. Prefiro e preferirei sempre ficar com o povo da Paraíba. Em toda essa peregrinação melancólica , em momento algum admiti ser o candidato dos desvãos de palácio, ou dos conluios domésticos, dos que pensam ser donos ou donatários da Paraíba – bradou Mariz num discurso na Praça João Pessoa, em 28 de abril de 1978, conforme registra o livro Resistência ao Medo – A história de uma eleição indireta para governador - , do jornalista Jório Machado, em seu Capítulo VIII, publicado pela Editora O MOMENTO, em setembro de 1978.
Nesse mesmo pronunciamento, Mariz declara guerra ao próprio partido e ao sistema militar da época, anunciando resistência, tomando a decisão de ir a Convenção por entender que o povo queria que ele governasse a Paraíba.
- Se admiti que meu nome fosse submetido a esse colégio eleitoral singular, é porque percebia ou julguei perceber que era o povo da Paraíba, que era o meu partido, que pediam que eu governasse este Estado... Nós não queremos trabalhadores roubados em seus salários de fome. Nós não queremos estudantes amordaçados. Nós não queremos o povo traído no seu mais profundo e legítimo dos direitos: o direito de escolher os seus governos, de eleger os seus governantes e definir sua própria história e de escolher o seu próprio destino.
Pois é para isso que haveremos de continuar lutando. Ninguém deserdará. É preciso continuar lutando... Pois bem, paraibanos, aqui estamos para iniciar essa caminhada. Haveremos de seguir este caminho. Que nos sigam os que tiverem altivez e altivez não falta aos paraibanos.
Quatro anos mais tarde Mariz volta a disputar o Governo, agora pela via direta. Filiado ao PMDB, ele perde a campanha para Wilson Braga, do PDS, candidato do governador Tarcísio Burity e do regime militar. Amarga um ‘exílio forçado’ em São Paulo, retorna à Câmara Federal, se elege senador e em seguida a governador, vencendo a candidata Lúcia Braga (PDT), numa das mais acirradas campanhas.
Quis o destino que Mariz só governasse a Paraíba por nove meses, apesar de se preparar a vida inteira para dedicar sua inteligência, sua cultura, seu inigualável espírito público, sua honradez e sua capacidade de ação em nome da grandeza do seu Estado e do bem estar do seu povo. A Paraíba que chorou e sentiu sua morte, hoje reverencia sua memória. Mariz construiu uma nova página na história da política paraibana que não pode e nem deve ser esquecida. Nunca!
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