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  • A Guerra de Princesa

    07/11/2013

     O Diário Carioca fundado, no Rio de Janeiro, em julho de 1928, por José Eduardo de Macedo Soares, foi dos mais influentes jornais do país. Como responsável pela modernização técnica da imprensa brasileira, introduziu o lead nas matérias, o copidesque e o manual de redação do jornalista. O matutino foi a voz da Aliança Liberal, em 1930. 

    A partir da redemocratização de 1945, paraibanos foram assíduos, em suas páginas, e citam-se o escritor, deputado federal e ex-governador da Paraíba, Ernani Sátyro, e o ex-ministro Ipojuca Pontes, como colaboradores. Figura como Chefe de Redação, por longos anos, o escritor Ascendino Leite, membro da APL. 
    Em fevereiro de 1930 olhos e ouvidos da Nação se voltaram para o pequeno Estado nordestino. O manifesto do coronel José Pereira Lima “Ao povo brasileiro”, em março do mesmo ano, assustou a Nação. Era o grito de guerra fratricida que já havia começado.


    O Diário Carioca informava sobre os combates em Princesa e o apoio em armas e munição ao chefe dos insurretos sertanejos, por determinação de Washington Luiz, governante da Nação. Outros matutinos arrimados com o Diário não poupavam o Presidente da República nem os Estados limítrofes com a Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, pela ajuda lojista à revolução intestina.


    Integrantes da Aliança Liberal e parlamentares nas Casas do Congresso não se davam trégua no duelo verbal, entre as facções com tendências opostas. No ano fatídico os prognósticos de inverno irregular, se estenderam a 1931, culminando com o terrível estio do ano seguinte, computando-se dois grandes revezes para a região nordestina – a revolta de Princesa e a seca de 1932.


    O Presidente da República se fazia de ouvidos moucos aos reclamos contra o auxilio armamentista aos insurretos de Princesa, para que irmão matasse irmão. Nada comovia aquele que ao assumir a Presidência da República, em 1926 se dizia “aberto ao diálogo com outras forças”. 
    Na capital o Presidente João Pessoa contava com a animosidade do desembargador Heráclito Cavalcanti, a “alma danada” que enviava ao Presidente da República, pedidos de demissão, remoção e outros castigos a simpatizantes da causa da Aliança Liberal (Arq. FCJA). 
    À Paraíba tudo era negado. Washington Luiz não permitiu a importação da França, de cartuchos com carga de projeção de boca-de-fogo, para os fuzis da Policia Militar paraibana, se defender dos ataques. Tudo o Presidente fez para incluir uma mancha negra na Historia da Paraíba. . 
    Para a verificação in-loco da conflitante situação, foi enviado à Princesa um jornalista do Diário Carioca, com a missão de ouvir os dois lados. A partir do ponto acima passo a narrar a repetição do que havia dito Victor do Espírito Santo, aos jornais brasileiros, em 1930, e repetidos, em 1975, no Rio de Janeiro, a José Américo, em minha presença.


    Com minhas palavras relato o que ouvi naquele dia, na rua Getulio das Neves, embora minhas palavras não tenha o sortilégio das do informante. Recebida a incumbência de ouvir o coronel José Pereira Lima, o repórter desembarcou em Recife no começo de abril do ano fatídico e de automóvel chegou a Rio Branco (Arcoverde) e de lá ao campo de lutas – Princesa Isabel.


    Depois de apresentar-se a José Pereira Lima, o chefe da rebelião, e falar de sua missão jornalística, o coronel mostrou-lhe o arsenal, com o timbre do Realengo, e o almoxarifado pejado de alimentos. Para a assistência aos feridos o Posto de Saúde estava abastecido de medicamentos. Dois mil homens à disposição do coronel tinham o soldo de 2 mil reis por dia, quando em combate, os demais apenas 1 mil reis.


    Surpreso com o que viu e ouviu o redator inspecionou a situação em Piancó, com dificuldades para o indispensável e mandou-se à capital para um encontro com o Presidente João Pessoa a quem relatou, a pujança de Princesa, em pessoas, material e finanças. Chocou o jornalista a diferença entre as duas facções e só a coragem e o denodo da Policia Militar justificavam as parcas vitórias alcançadas. 
    Foi nessa ocasião que o Presidente João Pessoa ditou a sentença que foi a expressão do seu sentimento humano: “Eu só desejo que essa lute termine, seja para qual lado penda a vitória.”


    Depois do noticiário jornalístico de quem tinha autoridade para denunciar, a Aliança Liberal representada nos jornais, na Câmara e no Senado voltaram-se , com mais energia e assiduidade contra o Presidente Washington Luiz, pelo favorecimento e incentivo à luta.


    Constatado que João Pessoa e José Pereira Lima eram autoridades intransferíveis e ceder era viver sem honra, por que o Presidente não resolveu o problema, interferindo pela paz do Estado?


    Por que enviou forças federais para proteger Princesa depois da morte de João Pessoa e não mandou antes para evitar o conflito, em que paraibanos, em plena maturidade bem sucedida, perderam a vida, como João Pessoa, João Dantas, João Suassuna. E a plêiade de inocentes que ficaram sem pais, esposas sem marido, numa peleja, que desconheciam o motivo.


    A Aliança Liberal, com tanto poderio foi fraca ao exilar Washington Luiz Pereira de Souza, antes do inquérito que apuraria sua responsabilidade no esfacelamento da Paraíba. 
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    Lourdinha Luna é membro da ALA-Horácio de Almeida


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