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  • Quem matou o general?

    04/03/2013

    Aproveitei o feriadão para ler a alentada pesquisa de Glauce Burity sobre a vida e obra de Antenor Navarro e os acontecimentos ao seu redor que culminaram com a revolução de outubro de 1930. Encantei-me com o trabalho e com o biografado, esse extraordinário paraibano desaparecido aos 33 anos,quando Interventor da Paraíba,vítima da queda de um avião em que também viajava José Américo (“ o mar me engoliu, o mar me vomitou”).
    Alguns fatos fartamente documentados não são acompanhados pela opinião da autora.Ao que parece, seu objetivo foi deixar o leitor firmar a própria convicção diante dos documentos transcritos.
    Um dos eventos mais controversos do Levante de 1930 foi a tomada de assalto do 22º.BC, hoje 15º.Batalhão de Infantaria Motorizada situado na Avenida Cruz das Armas. Para começar, alguns preferem dizer que nem assalto houve. O Tenente Agildo Barata que era o Oficial de Dia, aproveitando o silencio da madrugada facilitou a entrada dos revolucionários, indo encontrá-los na Praça Bela Vista. Os que viveram esses episódios preferem, porém, serem chamados de assaltantes, mesmo com a recomendação cautelar de evitar derramamento de sangue, o que não foi conseguido.A principal vitima do ataque foi o General Lavanère Wanderley que hoje é patrono da Praça em frente ao quartel. Sua morte, todavia, permanece ainda envolta em mistério e sem autor definitivo à vista dos depoimentos colhidos pela escritora Glauce Burity.
    O Tenente Juracy Magalhães tem uma versão sobre a abordagem ao General diferente da narrativa de Agildo Barata. Primeiro Juracy, cearense aquartelado em João Pessoa:
    “O general deixou seu reduto, que ficava na parte alta do prédio, e veio descendo as escadas com as mãos para cima. De repente, abaixou-se, como se fosse puxar uma arma, e nesse instante, num gesto de reflexo, Agildo fez fogo contra ele. Lavanère encolheu-se com um rictus de dor. A bala o atingira no flanco esquerdo. Ainda conseguiu descer os últimos degraus da escada, vendo que me aproximava dele, pediu:
    -Tenente, me arranje uma cadeira que estou ferido.
    O tenente Agildo Barata, por outro lado, atribui o desfecho trágico a um soldado desconhecido:
    “O general se apresentou fardado, na porta do quartel(sic).(deve ser “porta do quarto onde dormia)Eu me dirigi a um dos meus auxiliares e determinei: leve o general para um dos carros estacionados aí em frente ao quartel e conduza-o ao “Buraquinho”(...) Enquanto eu estava preocupado em transmitir essa ordem,o general Wanderley visou-me e disparou, por duas vezes seu revolver.Os projetis, porém, não me atingiram.Mais tarde,um dos assaltantes me disse que fora ferido no braço por um desses disparos.Este (assaltante) depois de ferido,respondera ao fogo, alvejando também o general Wanderley.Este deixou cair no chão a sua arma(alias um revolver Colt,calibre 32) e eu me abaixei e peguei a arma.”
    Há uma versão difundida pelos governistas de que o general teria sido ferido enquanto dormia, não havendo prova dessa afirmativa popularmente propagada pelos perrepistas.
    Conta Agildo que vendo o general ferido, cancelou a ordem de recolhê-lo ao “Buraquinho” isto é, à mata do Buraquinho onde Antenor Navarro, diretor do Serviço de Água e Saneamento havia improvisado um prisão para os militares fieis a Washington Luis. O tenente rebelado, como se lê nas suas memórias, além de negar a autoria do disparo contra o general Lavanère Wanderley, faz deboche com os paraibanos civis que arriscaram suas vidas nessa empreitada cívica. E conta :
    “As reservas de energia e coragem que souberam conservar até então abandonaram os meus companheiros civis e um começo de pânico fê-los bater em retirada. Alguns só foram tomar fôlego depois de chegar no centro da cidade, distante alguns quilômetros do quartel.
    Das duas dezenas de assaltantes só permaneceram ao meu lado uns 6 ou 7 companheiros.Lembro-me que “agüentaram a mão” os seguintes; Artur Sobreira, Antenor Navarro,Basileu Gomes, Borja Peregrino,Francisco Cicero, Odom Bezerra e Caetano.
    O desfecho feliz da tomada da cidadela militar foi comemorada em toda a capital da Paraíba, àquela altura já denominada João Pessoa. Conta Glauce Burity que as comemorações foram acompanhadas por gritos de nós vencemos, é revolução.Se alguma dúvida havia, tocaram a sirene do jornal A União, anunciando a vitória da revolução.( Do livro EM PROSA E NO VERSO)


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