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  • Mudanças - o tempo

    06/06/2015

     Tempos difíceis, o mundo já não é o mesmo. Falam aleatoriamente, sintetizando as crises que acompanham o desenvolvimento − na verdade os momentos críticos de transformação da superestrutura jurídica, que governa as relações sociais. E nós dentro delas. Fazer o quê?
    O que acontece mesmo é o novo, irreversível e originário da práxis determinante do processo social, na multiplicidade dos fatos, decorrentes do seu inter-relacionamento.
    Desde muito sabemos disto, porem recorremos, desesperados ou espertamente a entidades fantásticas, a conceitos e legendas míticas, racionalmente inexplicáveis, como provocadoras da situação que tornam satisfatórias ou desconfortáveis estas relações.
    Um morador da fazenda, pessoa submissa no passado, sem garantias legais do emprego, quando se ajustava na base do compadrio para arranjar moradia, alugar o seu trabalho, sentia-se hoje desamparado com a “modernidade”, e surpreendeu-me. 
    Numa conversa sobre a precariedade da segurança, da saúde, da educação, das marchas populares de protesto no país, do escandaloso casamento de homem com homem e mulher como mulher, que só aceita quem tem veado ou sapatão em casa, saiu-se com esta: “As dificuldades, começaram quando as mulheres tomaram o lugar dos homens. Tudo parece normal e garantido pelo governo. Mas a bagunça é geral. Eu digo que o lugar da mulher é em casa, parta cuidar da família“ E nós do escalão superior, ofendidos nos nossos privilégios, achávamos que o mal estava na presença de “ex-pobres” nos aeroportos, viajando para visitar parentes no norte ou no sul, para turismo na Disneylândia, em Roma, trocando presentes nos dias dos pais, dos namorados, etc.
    Não adiantaria objetar explicações fundadas na ciência paradoxal dos técnicos do governo do PT. Homem idoso, o seu conhecimento remontava a um mundo sem escolas, notícias, sem rádio e televisão. Tudo na sua mente estava confuso, fundado nas lendas primevas das primeiras sociedades humanas, de reis e rainhas, de feiticeiros...
    Obtemperei: “Mas as mulheres estudam e aprendem, sabem das coisas.” Ele atalhou: “A razão é minha, veja... Com o meu trabalho dava de comer e vestia a família... hoje mal posso sair de casa...” 
    A consciência da coletividade foi “esmagada e moída” como num almofariz. A verdade subliminarmente estraçalhada em conceitos falaciosos embotava o seu raciocínio, e ele debatia-se desajustado à nova realidade, restava-lhe a falsa compreensão do que estava certo ou errado, da sua significação e nada mais conhecia, sequer intuía da realidade. 
    A quebra do milho, a cata do feijão, o amojo dos bichos, a derrubada das matas, a carpina perderam-se no passado fundado no trabalho mesmo artesanal. A nossa origem é rural. De ricos e de pobres. Mas a marcha do tempo e das trans-formações é inexorável.


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