Página inicial


  • Liberalismo e Socialismo

    23/04/2015

      "LIBERALISMO/SOCIALISMO ANOTAÇÕES SOBRE O PENSAMENTO POLÍTICO DE NORBERTO BOBBIO et alii Começo com estas anotações, fruto de breves leituras sobre liberalismo e socia-lismo, e do pensamento político de Bobbio, Norberto et alii, citando a advertência de Spinosa aos otimistas, lembrando que devemos estar alertas quanto a “construções quiméricas, realizáveis somente no mundo da utopia ou naquela idade do ouro na qual não eram de fato necessárias.” Na verdade, muitas vezes somos levados pela convicção do acerto das nossas idéias e conduzidos pelo entusiasmo da nossa emoção, a assumir posições no campo do conhe-cimento, embrulhando palavras, sem ideias claras. Muitos discutem os meios para conquistar o poder e não sobre a forma de exercê-lo depois da conquista. Valem as transcrições relativas ao assunto. “A democracia é uma coisa somente: quer dizer sistema parlamentar, pluralidade de partidos, eleições periódicas, liberdades civis e políticas.” “O socialismo é uma concepção de vida coletiva e de socialização dos meios de produção. É a luta contra o privilégio em nome do princípio da igualdade. Onde os mo-vimentos políticos e sociais se inspiram nesses princípios fundamentais de maior igualdade entre os homens aí está o socialismo.” A forma de como o poder se exerce é questão crucial, para salvaguarda do pluralismo. Na Rússia nasceu um estado totalitário com a conquista do poder pelos soviets e a dissolução da Assembléia Constituinte, a adoção de uma ideologia oficial que deveria ser aceita por todos, em obediência aos preceitos do leninismo. O leninismo (já não é atual, tem apenas relevo histórico) considera que a tomada do poder por parte de um partido seja a condição necessária e até suficiente para transformar a sociedade. O que aconteceu na União Soviética demonstra o erro dessa concepção. Num mundo de “espantosas injustiças”, diz Bobbio, não se pode pensar que a “esperança de revolução tenha morrido só porque a utopia comunista faliu.”. A democracia venceu o desafio do comunismo histórico, admitamo-lo. Mas com que meios e com que ideais dispõe-se a enfrentar os mesmos problemas que deram origem ao desafio comu-nista?” Esquerda e Direita sobrevivem. Impossível negá-lo, a partir desta afirmação. Estes comentários, no meu entender, aplicam-se à situação criada no Brasil com a eleição de Lula e, literalmente, a tomada do poder pelo grupo de intelectuais que se dizem gramscianos. Sem tese ou opção para o exercício democrático do governo, o PT patrocinou danosas ações de malversação de dinheiros públicos, comprovadas na irrespondível e injustificável marca da corrupção no Congresso Nacional, nos municípios, nos estados e nas áreas do governo federal, E ao apelo para soluções baseadas na corupção, conhecidas como mensalão, caixa dois, e a insólita candidatura, em eleição prevista no calendário eleitoral, do presidente do Supremo Tribunal Federal que deveria, ética e legalmente, estar fora das cogitações. A postura ética e política do PT, representou, ainda na argumentação de Bobbio, “a conquista do poder por parte da ala revolucionária do partido que se considerava a vanguarda do movimento dos trabalhadores”. Esclareço que não faço acusações e críticas ao PT, isentando os demais partidos que compõem a cúpula política nacional, de ofensas à ética, ao decoro, ao dever de sal-vaguardar a dignidade da pátria. Desde a campanha de Collor e Fernando Henrique (tratando de tempos recentes) o desrespeito à legislação eleitoral, o famoso “caixa dois”, prática conhecida com outro nome no passado, tornou-se a lavagem oficial dos dinheiros públicos desviados para engordar contas bancárias, aumentar o patrimônio e o luxo de políticos conhecidos em todos os recantos do Brasil. Cada um de nós, olhando em torno, conhece e vê os aproveitadores. Somente a permissividade patrocinada pela mídia, permite que muitos nomes ainda sejam vistos nas listas de candidatos em eleições, e anunciados para ocuparem cargos destacados na admi-nistração pública. Ao Partido dos Trabalhadores e às demais agremiações partidárias que funcionam no país, cabe a tarefa de afastar das suas fileiras cidadãos envolvidos em crimes contra a administração pública, os direitos do cidadão, e adotar a regra do conhecimento e do debate do seu programa por parte dos filiados. O histórico debate filosófico-político-ideológico travado a partir das notas trocadas por Bettino Craxi e Enrico Berlinguer na Europa, deixou frases e conceitos curiosos, espantosos numa análise crítica da obra de Marx, Lênin e Gramsci, filósofos da história, de uma teoria do Estado e da revolução. Sem tentar o aprofundamento dos comentários e referências, citarei frases de socialistas e comunistas, indistintamente, e achegas de Bobbio nas suas pertinentes observações. “O socialismo não se identifica com o marxismo, muito menos com o leninismo” afirmou Cláudio Martelli, do Departamento Cultural do PSI. Buscavam os italianos iden-tidade própria, e Craxi acentuava: “Foi o leninismo que originou o totalitarismo que redundou no Gulag.” Ao mesmo tempo acusava o “eurocomunismo” gramsciano de ambíguo. Gramsci deixara um tesouro de ideias aproveitáveis, entre outras, da necessidade que tinha o partido de assenhorear-se da cultura, admitir muitos intelectuais nas suas fileiras. Os conceitos criados por ele de guerra de movimento (conquista violenta do poder) e guerra de posição (prevê o lento desgaste do adversário, indicada para os países industrializados) eram amplamente discutidos. A sua tese da hegemonia a partir de uma sociedade civil articulada, a ética vinda de baixo, foi debatida, aceita por alguns. Os petardos se sucediam: “Pode-se muito bem ser socialista sem ser marxista.” “A classe operária, base da revolução soviética nunca assumiu o poder.” “Os soviéticos ainda confundem socialismo com estatização. E se esquecem de coisas muito mais importantes como a liberdade e a democracia.” Conquistado o poder, o Estado seria uma realidade provisória (Marx, Lênin). Os comunistas admitiram muitas coisas. Em relação à massificação, concordamos que é um problema tanto de um lado como do outro. A massificação nas democracias ocidentais é fruto da mídia, da indústria cultural. Mas outra coisa é falar de massificação num Estado que além do poder ideológico detém o poder político. Trata-se do Estado confessional: aquele que escolhe uma religião e obriga seus cidadãos a acreditar nela. Esquerda e direita, pluralidade existem nos chamados regimes democráticos. Esta é a diferença. Ao finalizar esta breve exposição, assevero que debater e receber com respeito todas as opiniões, concordando ou não com cada uma é a nossa tese. Finalizo utilizando Bobbio, no encerramento de suas atividades docentes a que dedicou 40 anos. Falando para o seu auditório, citava Max Weber numa clara advertência e definição do destino das uni-versidades: “A cátedra universitária não é nem para os demagogos, nem para os profetas”. O ineditorialista GM da revista “Isto É” advertia em tom profético: “Por enquanto, a polêmica é retórica. Não tenham dúvidas, porém, que logo se tornará muito prática.” Nada mais ajustado para a realidade brasileira nos últimos trinta anos. E mais citações, todas da Revista “ ISTO É” 06 /12 / 1978."


    Voltar