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  • 23.09.2013 - 18:17

    Senador diz ter sido agredido por Bolsonaro em visita ao DOI-Codi no Rio


     Hanrrikson de Andrade
    Do UOL, no Rio*

     

    O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) travaram uma discussão acalorada na manhã desta segunda-feira (23), no momento em que membros da Comissão da Verdade entravam no 1º Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro, onde funcionava o antigo DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna). Segundo a assessoria de imprensa de Rodrigues, o senador amapaense afirmou que foi agredido por Bolsonaro com um soco na região do estômago.

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    Comissão da Verdade investiga violações cometidas na ditadura50 fotos

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    14.ago.2013 - Em sessão das comissões Nacional e Estadual da Verdade no Rio, o advogado José Carlos Tórtima (à direita) acusa o major Walter Jacarandá de tê-lo torturado durante a ditadura militar (1964 - 1985). "Nunca é tarde, major, para o senhor se conciliar com essa sociedade ultrajada por essas barbaridades que pessoas como o senhor cometeram", afirmou Tórtima. O militar admitiu ter participado de sessões de tortura no DOI-Codi, no Rio. Foram ouvidos seis ex-presos políticos que foram presos e torturados nas dependências do DOI-Codi, localizado na rua Barão de Mesquita, na Tijuca. A audiência pública tratou da morte, no mesmo local, de Mário Alves, líder do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), em 1970 Thiago Vilela/CNV

    Testemunhas da confusão confirmaram que Bolsonaro agrediu o senador do PSOL durante a confusão. Após a briga, ambos entraram no batalhão e seguiram para a visita acompanhados de militares, parlamentares e representantes do Ministério Público. Procurada, a assessoria de Bolsonaro afirmou que ainda não teve contato com o deputado federal na manhã desta segunda.

    O bate-boca começou quando o senador João Capiberibe (PSB-AP) tentou barrar a entrada de Bolsonaro, que é radicalmente contrário aos trabalhos da Comissão da Verdade, e disse estar no local como forma de protesto. Nesse momento, Rodrigues se aproximou para apoiar o senador do PSB, e houve troca de ofensas entre os dois.

    Participam da visita os senadores João Capiberibe (PSB-AP) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a deputada federal Luiza Erundina, o presidente da Comissão da Verdade do Estado do Rio, Wadih Damous e representantes Comissão Nacional da Verdade, entre outros. Eles entraram em uma das salas de tortura às 11h45.

    O deputado Jair Bolsonaro disse que foi ao 1º Batalhão de Polícia do Exército para protestar contra os trabalhos da comissão. Ele chegou a entrar junto com a comitiva que visita o prédio do DOI-Codi, mas, segundo a a assessoria da Comissão da Verdade, o parlamentar do PP não está acompanhando a visita, embora ainda não tenha deixado o batalhão. Ele estaria aguardando no pátio.

    A assessoria de João Capiberibe informou que o senador já trabalhava com a hipótese de encontrar Bolsonaro na manhã desta segunda. Na reunião com o ministro Celso Amorim, na qual membros da comissão e militares acertaram os detalhes da visita, um coronel do Exército teria dito que se a prerrogativa de parlamentar bastava para que Capiberibe e Rodrigues visitassem o 1º Batalhão de Polícia do Exército, "o Bolsonaro também poderia entrar".

    Do lado de fora do batalhão, um grupo de cerca de 30 manifestantes e profissionais de imprensa aguardam o fim dos trabalhos da comissão. Os manifestantes são militantes de partidos, jovens universitários e membros da ONG Tortura Nunca Mais.

    Campanha

    Parlamentares federais da Comissão da Verdade --entre elas a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP)-- e representantes do Ministério Público visitam nesta segunda-feira (23) o prédio onde funcionava o DOI-Codi, órgão criado durante a ditadura militar (1964-1985) e que tinha a função de unificar a repressão política. O local é apontado como o principal palco das sessões de tortura ocorridas no decorrer do regime.

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    Comissão da Verdade investiga crimes contra povo indígena13 fotos

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    Imagem cedida pelo jornalista Edílson Martins mostra uma maloca em chamas; segundo o sertanista José Porfírio de Carvalho e a Funai, a maloca foi incendiada pelos próprios waimiris-atroaris, que temiam um ataque dos brancos; o Comitê Estadual da Verdade do Amazonas, entretanto, quer que a Comissão Nacional da Verdade investigue se a imagem não retrata um bombardeio militar contra uma aldeia Leia mais Arquivo/Programa Waimiri-Atroari

    De acordo com a representação fluminense da Comissão da Verdade, a ida ao prédio é "o primeiro passo de uma campanha para tombar o local e transformá-lo num centro de memória", a exemplo do que foi feito no imóvel do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo e em centros de tortura na Argentina, no Uruguai e no Chile.

    A visita estava marcada para a última sexta-feira (20), mas acabou sendo suspensa em resposta a um suposto veto à presença de Luiza Erundina pelo Exército. A nova data foi agendada após uma reunião entre três senadores e o ministro da Defesa, Celso Amorim, na última quarta (18).

    Primeira visita foi impedida

    Este não é o primeiro problema envolvendo uma visita ao prédio do DOI-Codi. No último dia 21 de agosto, o Comando Militar do Leste impediu entrada de membros da comissão estadual ao prédio.

    O grupo chegou ao local pela manhã e não teve a entrada autorizada. De acordo com Wadih Damous, o Exército havia sido notificado sobre a visita, mas informou que não permitiria o acesso do grupo.

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    Veja os arquivos da censura às novelas durante a ditadura militar95 fotos

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    Censores pedem corte de palavrões e de uma cena que sugere sexo oral entre os personagens Fátima (Glória Pires) e César (Carlos Alberto Ricelli), da novela "Vale Tudo"Leia mais Reprodução/Arquivo Nacional

    O Comando Militar do Leste afirmou, segundo o telejornal "RJTV", da TV Globo, que a visita não foi autorizada porque a comissão não tem respaldo legal para fazer diligência em área administrada pelo governo federal.

    De acordo com a Corregedoria da Câmara Federal, qualquer cidadão pode apresentar um requerimento de representação à mesa diretora da Casa contra qualquer deputado federal, caso entenda que houve quebra de decoro parlamentar.

    Se provocada, a corregedoria investiga a denúncia e apresenta, nos devidos prazos, um parecer com o resultado da apuração à mesa diretora, que pode ou não acatar. Entre as consequências para o parlamentar, estão suspensão, penas ou até perda do mandato.

    No caso da suposta agressão, a corregedoria informou que a apuração do fato em si foge à esfera da imunidade material contra palavra, opinião e voto que protege deputados e senadores. Ocorrências deste tipo competem ao campo criminal, à Polícia Civil.

    *Colaborou Gustavo Maia

    Leia mais em: http://zip.net/bgk0rl