Página inicial

Notícia > Brasil

  • 15.09.2015 - 13:47

    PT recebeu R$ 15 mi em contrato no Comperj, diz delator


     O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, confirmou que em contrato da Petrobrás nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) – iniciada em 2009 – pagou R$ 15 milhões em propinas ao PT por meio de “doações oficiais fracionadas”.

    LEIA ÍNTEGRA DE DELAÇÃO DE RICARDO PESSOA SOBRE OBRA DO CONSÓRCIO TUC NO COMPERJ

    “Os valores destinados ao PT foram pagos na forma de doações oficiais fracionadas, no montante total aproximado de R$ 15 milhões, conforme acertado com João Vaccari”, disse Pessoa, em depoimento prestado no dia 28 de maio à Procuradoria Geral da República.

    Primeiro dono de uma grande empreiteira a fechar acordo de delação premiada nos processos da Operação Lava Jato, as revelações de Pessoa confirmam a atuação do cartel de empreiteiras, que pagava propinas nas contratações da Petrobrás, e desnuda como empresas dividiam dentro de consórcios a responsabilidades sobre os pagamentos de corrupção.

    “A UTC, na divisão de encargos do consórcio, foi incumbida de pagar a propina destinada ao partidos dos trabalhadores e à Diretoria de Serviços”, confessou Pessoa em seu termo de colaboração 24 – sobre a propina das obras do Comperj.

    “A responsabilidade pelo pagamento da propina relativa à Diretoria de Abastecimento, destinada a Paulo Roberto Costa e ao Partido Progressista, por meio de Alberto Youssef, foi assumida pela Odebrecht.”

    A UTC era sócia da Odebrecht e da japonesa Toyo Engeneering nesse contrato do Comperj, de R$ 2 bilhões. Ao todo, o consórcio teve R$ 3,8 bilhões da estatal.

    A confissão do dono da UTC complica dois alvos atuais da Lava Jato: o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu – responsável pelo grupo político pelo qual foi canalizado os recursos desse contrato, na Diretoria de Serviços – e os executivos da Odebrecht.

    Cota da UTC

    Dentro dos pagamentos que era responsabilidade da UTC, o empreiteiro citou o ex-gerente de engenharia Pedro Barusco e seu sucessor Roberto Gonçalves – que ainda não foi alvo das operações – e o lobista Julio Gerin Camargo, que atuava como lobista da Toyo no Brasil.

    Pessoa contou que o contrato era para ser uma concessão e que para isso foram feitos estudos e investidos recursos. “A Petrobrás acabou recusando o projeto de concessão, por entender que a sua execução tinha ficado muito cara”, contou Pessoa. A estatal teria decido então pela contratação direta “pelo fato de o projeto das obras ter sido desenvolvido pela Odebrecht, UTC e Toyo, inviabilizando uma licitação”.

    O objeto da contratação direta, segundo Pessoa, foi definido como Central de Utilidades. “Se formou um consórcio entre a Toyo, a UTC e a Odebrecht, chamado Consórcio TUC, o qual foi contratado.”

    O empreiteiro detalhou qual foi a cota da propina que ficou a cargo da UTC, dividindo em quatro beneficiários: 1) o lobista Julio Camargo, que recebeu R$ 42 milhões, 2) Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia, R$ 2 milhões; 3) Roberto Gonçalves, que sucedeu Barusco na gerência, que recebeu “pouco menos de R$ 5 milhões”; e 4) João Vaccari, “R$ 15 milhões.

    No caso de Julio Camargo – que era ligado a Dirceu -, os valores foram superiores aos demais “em razão da inviabilização do projeto de concessão e da contratação direta do Consórcio TUC, pela sua atividade de intermediação dos interesses da Toyo e da Mitsui, bem como pelas despesas por ele feitas com a elaboração do projeto de concessão”.

    Os valores recebidos pelo lobista foram por intermédio de suas empresas, que ele confessou ter usado para movimentar dinheiro de propina, Treviso, Piemonte e Auguri. Para provar o que diz, entregou os registros de transferências.

    No caso dos valores entregues aos dois ex-gerentes de Engenharia, Pessoa afirmou que foram em espécie. “Os pagamentos a Pedro Barusco e a Gonçalves foram feitos em espécie com dinheiro retirado do caixa dois da UTC.” Os ex-gerentes eram cargos de confiança do diretor de Serviços, na época Renato Duque – sustentado politicamente no cargo, por Dirceu.

    Confissões cruzadas

    A confissão de Pessoa vai ao encontro das afirmações de quatro outros delatores envolvidos nesse contrato do Comperj, com o Consórcio TUC, dentro dos núcleos de agentes públicos e operadores financeiros do esquema.

    Na Diretoria de Abastecimento, que implica a Odebrecht, o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o operador de propinas do PP Alberto Youssef tinham confessado o esquema. Na Diretoria de Serviços, Barusco e Julio Camargo também confessaram suas participações.

    As obras do Comperj envolvem boa parte das 16 empreiteiras do cartel.

    A construção do complexo foi um dos maiores empreendimentos individuais da história da Petrobrás, com valor estimado de investimento em US$ 8,4 bilhões. A terraplanagem foi iniciada em 2008.

    Pessoa disse ter sido procurado em 2009 pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa para iniciar as tratativas desse contrato.

    COM A PALAVRA, AS DEFESAS

    JOÃO VACCARI NETO

    O advogado Luiz Flávio Borges D’Urso, que defende João Vaccari Neto, afirmou que o ex-tesoureiro do PT ‘jamais arrecadou propinas’.

    D’Urso é taxativo. “O sr. Vaccari jamais recebeu qualquer doação ilegal. Todas as doações foram realizadas ao PT, depositadas na conta bancária e prestado contas às autoridades.”

    ODEBRECHT

    Nota da assessoria de imprensa, da Odebrecht:

    As manifestações das defesas do executivo e dos ex-executivos da Odebrecht se darão nos autos do processo.

    JOSÉ DIRCEU

    O ex-ministro José Dirceu nega o recebimento de propinas. O criminalista Roberto Podval, que defende Dirceu, apresentou à Justiça contratos e notas dos recebimentos pela JD Assessoria da UTC. Ele afirma que os valores são legais referentes à consultoria de prospecção de negócios no exterior.