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  • 01.04.2014 - 09:10

    EUA foram decisivos no golpe, diz ex-ministro de Jango


     O ex-ministro do Trabalho do governo de João Goulart, Almino Affonso, afirmou em entrevista ao Roda Viva, exibido nesta segunda-feira (31) pela TV Cultura, que os Estados Unidos foram responsáveis por unificar as Forças Armadas do Brasil e acabaram sendo decisivos do golpe de 1964.

    Segundo Affonso, havia profundas divisões dentro das Forças Armadas no período pré-golpe, com setores nacionalistas e antinacionalistas. "O que havia de divisões internas era doloroso. Era um choque aberto", disse.

    "A ruptura do Exército vinha num crescente impressionante. E, para mim, foi um grande espanto quando, há dois anos e meio, fui tentar escrever sobre aquele período e constatei que houve uma coesão quase absoluta. Os Exércitos ficaram unidos", afirmou Affonso.

    O ex-ministro sustenta que o apoio e a influência norte-americana conferiram "unidade absoluta" entre os militares. "Havia uma ingerência direta americana, criando uma tal coesão militar não só aqui, mas em toda América Latina", disse Affonso. "Quem ignora a presença americana no golpe militar de 1964 está perdido no tempo."

    O ex-ministro de Jango afirmou que os EUA colocaram à disposição dos militares brasileiros porta-aviões e destroieres, que estavam a caminho do Brasil.

    Resistência inviável

    As afirmações de Affonso foram dadas em resposta ao historiador Daniel Aarão Reis, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), que questionou o entrevistado sobre as razões pelas quais a esquerda e outros setores de apoio a Jango não resistiram ao golpe em 1964.

    Para o ex-ministro, além da influência norte-americana, as esquerdas e os janguistas não tinham a "menor condição de resistência armada". "Não tinham armas nos sindicatos. O PCB (Partido Comunista Brasileiro) não tinha a menor condição de resistência armada. Não fizeram [a resistência] porque não puderam."

    Affonso citou ainda a existência de fatores neutralizadores da resistência, como a crença de que haveria eleições presidenciais em breve e que Jango ou outro candidato do mesmo campo pudesse retornar ao comando do país pelas urnas.

    Questionado sobre uma pesquisa Ibope feita 15 dias antes do golpe e divulgada recentemente, que mostrou que Jango e as reformas de base tinham amplo apoio popular, o ex-ministro respondeu: "eu tenho absoluta certeza que nenhum de nós sabia dessa pesquisa naquela época."

    Congresso consumou o golpe no dia 2

    Para Affonso, o golpe foi consumado no dia 2 de abril, no Congresso Nacional, quando o senador Moura Andrade, presidente do Legislativo à época, convocou uma sessão extraordinária na madrugada e fez um discurso, pela manhã, em que acusou Jango de ter abandonado o cargo ao viajar de Brasília a Porto Alegre.

    Segundo o ex-ministro, o senador havia recebido uma carta do ex-ministro da Casa Civil de Jango, Darcy Ribeiro, em que se informou a ida de Jango ao Sul. No discurso, Moura Andrade declara vaga a Presidência e o então presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, assume o posto temporariamente.

    "Não tenho dúvida que [o golpe] se consuma com a palavra do presidente do Congresso e em seguida a posse de Mazzilli", afirma Affonso. "Ali se confirma, do ponto de vista institucional dominante, o golpe, e, portanto, o novo governo, que os EUA reconheceram no dia seguinte."

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