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  • As memórias e a Petrobras

    30/04/2014

     Para o comentário complementar dessa crônica – As Memórias e a Petrobrás - faço uma digressão para rememorar cenas do passado remoto, até chegar ao apogeu da Empresa de sociedade mista, ciente de que os dois assuntos referem-se a palpitantes vestígios da vida paraibana.

    Com a mudança de dona Antonina, da rua general Osório, (João Pessoa –centro), para a rua da República, seu endereço deixou de ser familiar. A troca do estilo domestico, forçou seu hospede, tenente Juracy Magalhães, esposa e filho menor, a residir na praia de Tambaú, um lugar só movimentado no verão. Nos outros meses era um deserto, sujeito à “maleita” (impaludismo) e doenças sazonais. Naquela época a efervescência dos preparativos para a Revolução de 1930, era o prato do dia.

    Na cidade-baixa, continuaram os encontros dos que não desejavam se expor, antes da hora. No local as reuniões pré-revolução, não davam pista ou desconfiança sobre o que o grupo de homens maquinava. Sobre Antonina a patrona da pensão de diversões, pairava a certeza de ser de extrema conveniência pois, foi testemunha do que se passara, porém, jamais comentou as ocorrências políticas, naquele recinto.

    Quando José Américo assumiu o governo do Estado, adotou o hábito, de no fim do expediente se reunir com alguns auxiliares e era estimulado a contar passagens que antecederam ao fatídico 4 de outubro de 1930, no 22º Batalhão de Caçadores, quando perdeu a vida, o brioso general Lavanère.

    O governador havia se cercado de um “Jardim de Infância”, que o ajudou a administrar o Estado. Destacou os jovens Antonio Lucena e Dirceu Arnaud para, numa tratativa “arrancar” de Antonina, se as fardas dos combatentes foram guardadas, debaixo de sua cama, como era corrente. E, se de sua residência saíram fardados, os que se envolveram no assalto ao Quartel de Cruz das Armas e outras curiosidades nessa linha. A informação era de interesse do escritor.

    Os enviados nada conseguiram. Antonina fazia valer a fama de segura quanto as suas reservas e de seus clientes. Ela, jamais revelara que era “protegida” de Antenor Navarro, por quem chorou pelo resto da vida...

    O governador não se deu por vencido e tentou outro caminho, talvez mais persuasivo, o desembargador Julio Rique, um boêmio declarado. Falou de sua intenção de ter uma conversa com Antonina e citou o assunto. Acertado o lugar disse o Chefe de Estado. “Recebo-a, no próximo sábado às 8 horas da manhã, no Palácio da Redenção.” Até então, as Repartições do Estado, adotavam expediente no último dia da semana, até às 12 horas.

    Pensando, no desconforto que a visita pudesse lhe trazer, reformulou o local: “no mesmo dia, porém, em minha morada no Cabo Branco”. Avisou a dona Alice da visita que ia receber e aguardou a hora, tão esperada...

    No horário combinado chegou Julio Rique, não com dona Antonina, mas com sua dileta amiga Hosana que lhe trouxe um pedido e foi direta a ele: “não desejava para as filhas de suas ‘meninas’ um destino igual ao de suas mães e punha mãos governamentais o futuro delas.” A suplica emocionou o ouvinte, ao analisar que Hosana alienava um produto que, quanto mais novo, mais rendoso...

    Despedindo-se, a visitante recebeu de dona Alice uma cesta de frutos do seu pomar e um jarrinho com um pé de “rosedá”, uma planta brejeira, extinta, que a receptora exibia como presente da primeira dama da Paraíba.

    Eu creio que houve um equivoco, nos nomes, pois o desejo de José Américo, que se preparava para escrever o segundo livro de Memórias, que se iniciava com sua freqüência à Faculdade de Direito no Recife e terminava com a Revolução de 1930, seja qual fosse o depoimento de dona Antonina era elucidativo e inédito.

    O governador determinou à Secretaria do Interior e Justiça fazer um levantamento das crianças, de ambos os sexos, que se enquadrassem na recomendação e foi confirmado que 300 infantes careciam de assistência patronal.

    O Orfanato dom Ulrico foi aumentado em mais uma ala, o Abrigo Jesus de Nazaré, também recebeu ampliação e o Instituto Presidente João Pessoa, em Pindobal, ficou maior. A verba de manutenção teve majoração, para acudir aos encargos que surgiam.

    Quem me leu até este ponto há de perguntar aos seus botões: “O que tem a ver um lance da revolução de 1930 com a Petrobrás.” Eu respondo: se o desviado dos cofres da Empresa que Getulio Vargas criou em 3 de outubro de 1953 e seu desempenho encheu de orgulho os brasileiros, se houvesse probidade em sua destinação, o Brasil seria outro.

    No governo militar a Petrobras chegou ao 4º lugar na classificação entre as maiores petrolíferas do mundo, e a 2ª no continente americano. Se não fosse a corrupção, uma parte do lucro da Petrobras poderia custear escolas publicas e estaríamos livres dos desatinos, que põem em perigo o destino democrático da pátria brasileira.

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    Lourdinha Luna é membro da Academia de Letras de Areia.


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