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  • Um apelido depreciativo

    30/01/2014

     Um diário do Rio de Janeiro e seu diretor cujos nomes Ascendino Leite me revelou e anotei, porém, sem tempo de procurar em meus guardados, deixo de citá-los nominalmente nesta crônica. Esse jornal foi um baluarte na vitória da Aliança Liberal, em 1930. Em face do seu ostensivo apoio à Revolução tenentista pensou que seria fácil locupletar-se do que era público, através do Ministério da Viação e Obras Públicas, e deu-se mal.

    Aqui faço um parêntese para citar a composição dos auxiliares do 1º escalão do Governo Provisório, sob a chefia de Getulio Vargas.

    Ao assumir em 30 de outubro de 1930, a 16 de novembro o Presidente assinara os atos de criação de dois novos Ministérios: o do Trabalho, Indústria e Comércio, chamado de “Ministério da Revolução”, entregue ao gaúcho Lindolfo Collor, que impôs uma radical ampliação nas leis trabalhistas do país.

    Desmembrada da Saúde, a Educação, caiu nas mãos de Francisco Luiz da Silva Campos. O professor e jurista mineiro empreender uma reforma do Ensino, elaborada por uma equipe de notáveis mestres. Como escolha pessoal de Getúlio, o gaúcho Osvaldo Aranha, um dos principais articuladores da Revolução de 1930, coube a pasta da Justiça. A de Relações Exteriores foi consignada a Afrânio de Mello Franco, que em pouco tempo fez o governo revolucionário ser reconhecido por todas as Nações. Para a Fazenda foi convidado o banqueiro paulista José Maria Whitaker que tentou voltar aos rumos clássicos do Senador Joaquim Murtinho, que, como ministro de Campos Sales, organizou as finanças públicas e administrou os desequilíbrios do governo anterior. A Agricultura ganhou o nome prestigioso de Assis Brasil. Para a Viação e Obras Públicas, o indicado Juarez Távora relegou a missão para voltar ao Exercito, onde pretendia fazer carreira. Teve como substituto José Américo de Almeida, o chefe civil da Revolução no Norte e Nordeste, o único desconhecido, pessoalmente pelo Presidente. Os cargos militares foram ocupados pelos generais José Fernandes Leite de Castro (Guerra) e Conrado Heck (Marinha). Este era o corpo ministerial do governo Provisório, em 1930.

    Todos os citados eram conhecidos no Rio de Janeiro. Não admira que a curiosidade em torno do paraibano fosse grande, embora tenha sido precedido pelo lançamento de A BAGACEIRA, e a luta de Princesa ao lado de João Pessoa, de quem foi fiel e dedicado Secretário.

    O Ministério de Viação e Obras Públicas, só tinha problemas. Seu Orçamento mal chegava para pagar aos funcionários e ao número incalculável dos que, ilegalmente, viviam pendurados em sua folha de pagamento. O Ministro teve de tomar medidas drásticas para equilibrar seus recursos.

    Rubens Rosa, ministro do Tribunal de Contas da União, disse-me que: “vistas e ouvidos do país se voltaram para o nordestino que assumia, uma pasta de tanta importância, no Governo Provisório de Getulio Vargas.” Agregou-se ao seu currículo a fama de corajoso, na discrição do jornalista Victor do Espírito Santo, que fora ao campo da guerra de Princesa investigar o que ocorria nos confins do Estado. O homem de imprensa escandalizou-se com o que viu patrocinado pelas forças federais e dos Estados limítrofes com a Paraíba.

    Estava José Américo ainda na arrumação da casa, quando o dono ou diretor do matutino registrado acima, sugeriu comprar papel para o seu jornal na cota do

    MVOP, como fazia no governo anterior. Foi informado que a situação vigente da Instituição, com dívidas astronômicas a saldar, não poderia atendê-lo. Mas, de certa forma o ajudaria com a prioridade para divulgar as ações do MVOP. Na hora ele entendeu. Despediu-se e as notas eram enviadas a seu gabinete e publicadas...

    Quando José Américo se candidatou à Presidência da República, o frustrado, percorreu o Nordeste, e procurou, em especial, os perrepistas, em busca de um ato falho na vida pública ou privada de José Américo. Chegou à Bahia, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e novamente à Bahia. Desesperançado, visitou jornais, pessoas, instituições e nada conseguiu de desabonador contra sua vítima. À indagação à resposta era a mesma. “Seu esforço é inútil. Esse homem é íntegro.”

    Um dos médicos que atendeu José Américo no acidente em Salvador, em 26 abril de 1932, relatou a queda do avião que quase lhe ceifou a vida e a preocupação constante com os feridos. O insatisfeito tomou o acidente como mote para alimentar seu instinto perverso.

    Aguardou a campanha e tudo que acontecia no país era culpa de Zeamerico. Na boca maldita ele era o azarento. Se o remoque o incomodava o ofendido eu não posso afirmar, pois a ele nunca se referiu. Eu mesma só vi até hoje uma pessoa dar 3 pancadas na mesa, quando da referência de um orador aos benefícios que como governador, prodigalizou à Paraíba. Reagi, numa crônica, a forma descortês do ofensor que, do alto de sua importância me escreveu pedindo desculpas.

    Desconheço pessoa mais portadora de sorte para outrem do que Zeamérico. Nem precisava ser íntimo. Bastava se acostar a ele. A começar pelos Secretários de seu governo. Nenhum se perdeu. Os deputados que o apoiaram seguiram a mesma linha de sorte.

    Ainda na meia idade o jornalista agressor faleceu com um câncer na língua, o que não levou a José Américo nenhuma satisfação.

    Encerro minhas considerações com sentenças do professor Dimas Lucena: “Quando a Inveja e a Ingratidão unificam-se em uma pessoa, tornam-na desumana, hipócrita e perigosamente capaz de qualquer atrocidade. Digno de ser feliz é aquele que contempla o sucesso dos outros sem o ácido venenoso da inveja.”


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