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  • Hotel Luso-Brasileiro

    24/01/2014

     Prometi que na crônica de hoje me acostaria à pretensão do Vereador Fernando Milanez no “grito” pela salvação de nossos prédios antigos, que guardam histórias de uma épocas distantes, e no presente são ruínas, em vias de desmaterialização completa.

    O assunto atual refere-se ao HOTEL LUSO BRASILEIRO, que antes de ser hospedaria abrigou de 1892 a 1906, no governo de Álvaro Machado, a Escola de Aprendizes Marinheiro. Esse estabelecimento de ensino tinha por finalidade o preparo intelectual, psicológico, moral, físico, e militar-naval para jovens nordestinos. Com as atribuições indispensáveis fornecidas pelo educandário, os alunos estavam aptos a pertencerem ao Quadro de Praças da Armada. Muitos nessa arma do Exercito Brasileiro, fizeram carreira até posto maior: Almirante. .

    Construído o edifício das Trincheiras, a Escola de Grumetes mudou-se para o novo endereço e o espaço no Varadouro passou a ser ocupado pelo HOTEL LUSO BRASILEIRO, de tantas tradições.

    Para o segundo livro de Memórias– ANTES QUE ME ESQUEÇA – José Américo e eu fomos ao prédio da remota pousada no Largo da Gameleira, que até 1895 teve esse cognome. Mais adiante fora batizado como 7 de Setembro e depois Praça Álvaro Machado (que ainda perdura), em homenagem ao areense que, na Paraíba, por duas vezes, foi governador.

    Havia, também, na cidade baixa o HOTEL UNIVERSAL, do século XIX e seu primeiro proprietário foi Vicente Montenegro. Porém a hospedaria não teve a projeção de seu co-irmão o LUSO, talvez. pela preferência dos intelectuais paraibanos, solteiros, para ali residir.

    Nas proximidades do Porto, conhecido como “trapiche dos franceses” porque alguns imigrantes possuíam terras anexas àquele ancoradouro, ficava a conceituada pensão de dona Sérvula Ribeiro, mãe do professor do Liceu Paraibana, Mateus Ribeiro.

    Walfredo Rodrigues em suas rememorações escritas refere-se a dois albergues o CENTRAL, no Varadouro e o UNIÃO, na Estrada do Carro (Barão do Triunfo) no mesmo local onde, posteriormente situou-se a joalharia Mororó.

    O ex-governador e historiador José Fernandes de Lima, membro do IHGP, estranha a ausência no livro ROTEIRO SENTIMENTAL DE UMA CIDADE, de Walfredo Rodrigues, dos hotéis LUSO BRASILEIRO, e o GLOBO, construído, em 1928, no governo do Presidente João Pessoa.

    O LUSO era a pousada por opção dos fazendeiros do Sertão, que vinham à capital vender seu algodão a Kronke & Cia que ficava no final da rua da República, onde depois se instalou a Matarazzo. A hospedaria era, também a preferência, de comerciantes do interior, de políticos e dos caixeiros viajantes, emissários dos grandes magazines, das fábricas e industrias do sul do país, pois naqueles tempos os pedidos de mercadorias eram feitos através desses agentes.

    No inicio do século XX o Varadouro era o coração da cidade, pois ali se instalara os interesses financeiros do Estado por via do Porto do Sanhauá, onde atracavam embarcações e navios de pequeno porte. Era pujante o comercio de Secos e Molhados, na sua vizinhança.

    Havia no Luso Brasileiro os hóspedes fixos entre eles figuras das letras, intelectuais e juristas. O lugar era tão tranqüilo que os hospedes dormiam com as

    janelas dos quartos abertas e não sumia de seus patrimônios, nem uma pena escarrapachada...

    O silencio só era quebrado por um violão plangente e um seresteiro que entoava as canções da época como a célebre: “Ó palidez imácula, bendita/ Ó palidez serena de teu rosto/ Que tem sido, tanta vez,/ na vida o meu desgosto.”

    Da sacada do hotel os residentes podiam observar o movimento do trem da Great Western. A Maria Fumaça, considerada por Jorge de Lima como a mais pitoresca do universo, fazia duas viagens diárias de Santa Rita-Cabedelo, apitando na chegada e na saída, com parada obrigatória na capital. Também apelidada de “bacurau” era tão pontual que disputava com os relógios Pater Felippe.

    Da varanda do balcão podia-se observar o pôr do sol, espargindo seus raios sobre o Sanhauá, uma paisagem digna de Nicolas Taunay, Debret ou Almeida Junior, autores de pinturas realistas ao ar livre, das campinas coloridas.

    A vida noturna dos intelectuais de então se fazia na redação dos jornais ou nos clubes, contudo condicionada ao relógio, porque, a partir das 21 horas os lampiões eram apagados e poucos se aventuravam a enfrentar a escuridão.Os sem compromissos com o horário vagueavam pelos bares e cabarés, até o despontar do astro rei.

    O velho casarão que ainda conserva em seu frontispício – Hotel Luso Brasileiro, merece ser preservado.

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    Lourdinha Luna é membro da AFLAP e da Academia de Letras de Areia

     

     


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