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  • A quota dos parentes

    12/02/2014

     Nos concursos públicos fica obrigado a reserva de um percentual de vagas para os portadores de deficiência física. Algumas universidades já adotam quotas para negros nos vestibulares. Tudo isso é feito em nome da não discriminação. Na minha opinião se trata de discriminação explícita e consentida. Um privilégio! No outro viés, discriminar parente de agente político, constituído pelo voto ou por nomeação, pode. É politicamente correto. Ninguém defende quotas para parentes. 

    É também privilégio, nepotismo é o nome da moda.

    Não vejo diferença entre a nomeação de um cidadão qualquer e um cidadão parente da autoridade que nomeia. O defeito está na origem legal da nomeação. O titular de cargo comissionado é de livre escolha e sua demissão depende exclusivamente da vontade de quem o nomeou. Daí, o cargo serve para qualquer um, seja parente ou aderente, negro, amarelo ou índio.

    Não vejo também qualquer distancia entre a nomeação de um parente, por que é parente e a nomeação de um amigo, por que é amigo e de um cabo eleitoral, por que tem votos. Mais uma vez, o defeito vem da liberdade conferida a quem nomeia. Mas quando se noticia no radio, na TV ou nos jornais, se fala em “nomeação de parente sem concurso”. Não se esclarece que é a lei que permite esse tipo de nomeação sem qualquer discriminação a parente, negro, branco, católico ou protestante.

    Pedro Gondim costumava dizer que é difícil a situação do político. “Se não nomeia um parente, é ingrato. Se nomeia, é corrupto”. Burity no primeiro Governo prestigiou os cunhados. “Nesse Governo quem não é cunhado é coitado” dizia Eilzo Matos. No Burity II, os sobrinhos já crescidos tomaram conta e surgiu novo “slogan” da oposição: “Quem não é sobrinho, é coitadinho”. Clovis Bezerra, instalou os genros no Governo e eu não perdoei: “Instalou-se a genrocracia”. Robson Espínola se irritava: “só é contra parente quem não os tem”. Agripino nos comícios proclamava: “Eu não gosto de parente”. Faltou dizer: dos outros...

    O interessante é que quando o sujeito entra na política sua primeira referencia é a família. Os familiares são os cabos eleitorais natos.Morrem de trabalhar para eleger o parente ilustre. E depois de eleito, a ordem é chutar os parentes? Família é eterna, e Rui Carneiro, o velho, já dizia: “é instituição divina”. Os amigos dos políticos são passageiros. Político não tem amigos, tem instantes de amizade. A amizade dura por um mandato e raramente se prolonga depois dele. A família não, é permanente. No fim da vida, sem mandado e sem poder e conseqüentemente, sem amigos, se o político não contar com a família, vai sozinho pro cemitério. Vai faltar quem leve o caixão.


    MICASSÁRIO
    Engana-se quem pensa ser da autoria da crônica social a invenção dos aniversários fora de época e com convites pagos, os chamados micassários. O cabo Bezerra, destacado no antigo distrito de Sossêgo, hoje cidade, (onde tirou o sossêgo de muita gente, segundo o então deputado Evaldo Gonçalves) e, depois, delegado do Casserengue, é quem merece esse crédito. Mesmo quando comemorava o aniversário em ambientes abertos, tipo campo de futebol, ele arranjava um jeito de ressarcir os gastos da festa. Bastava uma ordem sua.
    - Só assiste ao jogo quem levar uma garrafa vazia.
    Depois vendia as garrafas e pagava a festa.Se a festa fosse na sua casa, na entrada, se deixava a garrafa ou o presente. Em uma dessas festas, eu e o então prefeito Arnóbio Viana levamos duas garrafas de whisky de presente, de olho no seu conteúdo. Lêdo engano, além de só aparecer cachaça na mesa, a conta foi recheada, inclusive, com a despesa da policia que garantia a tranqüilidade da festa. 
    Nós pagamos o primeiro micassário... (DO Livro, Em Prosa e no Verso)


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