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  • Meu único sócio

    03/02/2014

    Quando a legislação eleitoral facultou espaço radiofônico a partidos e candidatos, para ser ouvido no brejo, tinha que me servir da Radio Constelação, iniciativa de Zenóbio Toscano, ainda no nascedouro. Não sendo pouco o deslocamento para Guarabira, se acresça ao sacrifício a ladeira mais íngreme da cidade onde eram localizados os estúdios e transmissores. O programa era enviado em fita cassete com a fala dos majoritários e dos candidatos às eleições proporcionais. Era o trabalho do partido. O meu era enxertar na fita do programa diário a minha mensagem, o que era repetido por Zenóbio e Maranhão, o nosso federal. As fitas se multiplicavam e chegavam às emissoras de Guarabira, à Radio Serrana, de Araruna e Integração, de Bananeiras. Esta ultima propriedade dos meus adversários e onde era proibida a minha entrada.

    Diante desse cenário passei a lutar para adquirir a minha própria emissora de rádio. Acionei o Ministério das Comunicações e o prestígio de Humberto Lucena conseguindo que se abrisse o edital para uma emissora em Solânea. A nova rádio denominar-se-ía Correio de Moreno, em homenagem ao antigo Distrito.

    Quando já estava encaminhando a formação social da empresa que concorreria à concessão, Humberto Lucena me participa que o deputado José Maranhão, que mais tarde Duda Mendonça transformaria em Zé, desejava participar da sociedade. Ponderei que ele já tinha uma emissora em Araruna, me contrapondo ao argumento de Humberto: “ele foi majoritário em Solânea e não deseja ficar fora do empreendimento”. Acatei meu novo sócio diante do argumento irrespondível de que ele tinha dinheiro e eu não dispunha dos recursos para o investimento. Dividimos a empresa em quatro partes com quarenta por cento para cada um de nós e os vinte restantes divididos entre uma sobrinha de Maranhão e o então prefeito de Borborema, Amâncio Ramalho. Constituída a firma o projeto foi engavetado. A Radio Serrana perdeu sua concorrente e a Radio Integração a sua oponente.

    A sobrinha de Maranhão passou em um concurso federal e me procurou para concordar com a sua retirada da empresa. Assinei os papeis necessários. Amâncio Ramalho faleceu deixando o problema para Formosina, sua viúva. Solânea continua sem a sua emissora de radio e eu, continuo sócio de Zé, ( Ah!. se fosse nos bois do Tocantins...) uma vez que até hoje a Radio Correio de Moreno não morreu perante a receita federal.

    E enquanto permaneço sócio indesejado de uma rádio inexistente, fico impedido de tirar certidão negativa na Receita Federal. E assim termina a minha única experiência empresarial.(Republicado por conta da minha labirintite)Em tempo:Graças ao Sistema Correio da Paraíba, Solânea hoje possui a Radio Correio da Serra.

    A QUESTÀO- O comerciante José Brasiliano da Costa estabelecido em Borborema, resolveu abrir uma janela para um terreno de propriedade do dr.José Amâncio Ramalho. Este

    entrou na Justiça e o juiz de Bananeiras, dr.Mario Moacyr Porto lhe deu ganho de causa, mandando fechar a janela. Brasiliano recorreu ao Tribunal de Justiça e ganhando o recurso, reabriu a janela. Zé Amâncio foi ao Supremo Tribunal e lá, teve reconhecido seu direito e a justiça mandou fechar a disputada janela. Brasiliano estava cumprindo a sentença e fechando a janela, quando chega o Zé Amâncio e o aborda:

    - Eu não disse que você não tinha o direito de abrir essa janela?

    - Pois é, eu perdi e estou cumprindo a decisão da Justiça, respondeu conformado o comerciante.

    E quando pensava que Zé Amâncio fora debochar da sua derrota, ouviu dele, surpreso, sua própria sentença:

    - Agora você pode abrir a janela. Eu só queria provar que você não tinha direito.

    E continuaram bons amigos! ( Do livro EM PROSA E NO VERSO)


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