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  • Waldyr, o conciliador

    11/06/2013

    Quando eu cheguei à Assembleia já o conhecia dos embates municipais. Estava secretário da prefeitura, durante a gestão Dorgival Terceiro Neto, enquanto Antonio Waldyr Bezerra Cavalcanti era vereador à Câmara de João Pessoa. Dorgival contava na sua bancada com bons vereadores, a exemplo da raposa política da época, outro Antonio, o Cabral Batista, vigário colado na presidência da Casa. Quando havia alguma matéria controvertida a ser aprovada, Cabral dava o mote: só tem um jeito, chamemos Waldyr. E era Waldyr Bezerra o arauto da conciliação. Era oposição, mas na hora do interesse público, deixava o partido de lado e ficava com a cidade.
    Uma das polêmicas maiores foi o aumento substancial do imposto predial. Na Assembleia, o deputado Inácio Pedrosa, do mesmo MDB de Waldyr, desenvolvia campanha contra o prefeito, inconformado com as novas alíquotas. Na hora que foi chamado a conhecer a realidade, a desorganização tributária reinante, onde uma casa em Cruz das Armas pagava mais imposto que um palacete da Epitácio, Waldyr Bezerra compreendeu a necessidade de implantação de uma justiça tributária. Conciliou sua bancada, fechou os ouvidos para a oposição na Assembleia e ajudou a gerar mais recursos para o Município.
    Eleito deputado entre os onze do MDB em 1974, com ele me reencontrei, fazendo parte do bloco dos vinte e dois da Arena. Estivemos em campos opostos, mas juntos em inúmeras iniciativas. A partir de 1982, formamos a mesma bancada do PMDB e fomos até à Assembleia Estadual Constituinte, quando ambos nos despedimos da Casa de Epitácio Pessoa.
    Advogado militante e amante das letras jurídicas, foi na formatação da nova Constituição da Paraíba que Waldyr Bezerra revelou-se o parlamentar indispensável ao debate. Como presidente da Comissão de Organização dos Poderes e depois, como vice-presidente da Comissão de Sistematização, atuou brilhantemente e defendeu seus pontos de vista com firmeza.
    Três pontos que ganharam grande destaque na mídia, contaram com a destemida reação do constituinte Waldyr Bezerra.Ficou contra a derrubada da lei de João Agripino que fixou o gabarito máximo para a construção de prédios na nossa orla marítima; reagiu contra a Comissão de Fiscalização do Poder Judiciário, criada pelo voto de minerva do Presidente João Fernandes e revogada pelo Supremo, por inconstitucional; (depois, surgiria o Conselho Nacional de Justiça) e, finalmente, ficou contra a criação de novos municípios.
    Quanto à criação de novos municípios ficamos isolados. Só nós dois fomos contra o exagero de se instituir mais cinquenta e dois municípios no estado, sem condições de autossobrevivência. Era como se dividir a miséria, pois o mesmo bolo seria repartido em mais fatias, era nosso argumento.Hoje, talvez viéssemos a reconhecer que muitas das novas cidades cresceram e melhoram desde que deixaram de ser distritos.
    Essas pinceladas sobre a atuação parlamentar do companheiro que acaba de nos deixar, refletem a história de um político que valorizava,acima de tudo, o interesse maior da população. Ademais,quando se queria resolver uma situação de difícil entendimento entre as facções beligerantes, bastava chamar Waldyr. Ele não havia nascido para digladiar.Sua missão era a de conciliar, e será assim, que sempre o verei.
     


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