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A democracia e a síndrome de Alice
09/04/2015
“Democracia não é apenas o Governo do Povo, ou o povo no poder, mas sim o governo da
maioria, porque nunca se chegará a um consenso sobre o melhor caminho a ser seguido. O homem nasceu para pensar e por isso tudo contesta e opina, sendo necessário dividir a
sociedade em correntes filosóficas, partidárias e políticas diversas, sempre buscando-
se um consenso médio e razoável, que definirá o destino do governo e o desenvolvimento
de uma sociedade.
Por isso a democracia precisa de partidos, sindicatos, federações, associações e coisas
desse tipo, para buscar o entendimento entre as diversas correntes e opiniões na
sociedade, em busca do bem estar para a população que nela vive.
Podemos até votar nulo, mas não podemos deixar de sempre avaliar os candidatos a cargos
públicos, em busca das melhores propostas e histórico na carreira política ou
profissional. Na minha ótica, a omissão não é o simples ato de votar nulo, mas sim o
fato de não avaliar os candidatos, ou não participar dos debates, por achar que todos
são iguais ou que estaríamos perdendo tempo. Nessa última postura é que está a omissão.
E se votar nulo é um direito de protesto, apesar de contestável por muitos, viajar ou
ir à praia e não votar é pura burrice. Em pleno século 21, com a informação on line ao
alcance de todos, em que milhares de pessoas lutam e morrem pelo direito de votar e
escolher seus próprios líderes, como ocorreu recentemente no Egito e na Síria, deixar de votar é fechar os olhos e ouvidos se deixar levar pela Síndrome de Alice, aquela que vivia no País das Maravilhas.
Daí porquê, sustento que a exclusão de milhares de servidores públicos da vida e dos debates partidários, por força de uma dispositivo legal incluído no Código Eleitoral (art. 366)
no tempo da ditadura militar e que não foi recepcionado pela atual Constituição
Federal, transforma o colaborador da Justiça Eleitoral em meio cidadão, impossibilitado
de participar diretamente das discussões da própria categoria no Congresso Nacional ou
nos ambientes políticos, sempre a depender da opinião ou vontade de outros
representantes, que não conhecem a nossa realidade.
Pergunte a um servidor da Justiça Eleitoral se ele não se sente constrangido em assistir
um comício de campanha eleitoral de qualquer candidato. Na visão de muitos é terreno
proibido para todos os colegas.
Se um servidor da Justiça Eleitoral for a um comício de determinado partido é porque já
escolheu os seus candidatos,por isso suspeito em todos os seus atos a partir de então.
Se for ao comício de outros partidos, certamente estará fiscalizando possíveis excessos
na propaganda eleitoral, e daí será um persona non grata, podendo até ser expulso do
ambiente, caso identificado.
Digam se não estou com a razão os colegas dos cartórios eleitorais?
O simples ato de assistir a um comício não passa de direito à informação, inerente a
todo cidadão, oportunidade em que poderá ouvir sobre as propostas de governo dos
candidatos e partidos.
Como votar sem ouvir as propostas e promessas políticas, ouvindo apenas o maquiado guia
eleitoral, que fala sempre de um país das maravilhas, onde tudo funciona bem e nada
precisa melhorar.
Ou seja, não é pecado nem crime prometer uma obra pública ou uma escola para
determinado município. O que a legislação eleitoral proíbe é que a promessa seja feita
diretamente ao eleitor, como forma de suborná-lo com a doação de brindes, dinheiro,
emprego ou benesses em troca de votos, porque isso caracteriza abuso de poder
econômico, desequilibrando o pleito eleitoral em benefício do candidato que assim atua.
Por outro lado, excluir da vida e dos debates democráticos e partidários milhares de
servidores da Justiça Eleitoral é excluir das principais decisões de Governo pessoas
esclarecidas, que muito poderiam contribuir para o desenvolvimento do nosso país, não só
como servidor público” (FLÁVIO RAMALHO).
O texto acima, está incluído no livro POLÊMICAS ELEITORAIS, a ser lançado neste mes de abril , contendo temas de direito eleitoral, administrativo e constitucional escritos pelo meu saudoso filho Flávio.
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