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  • Novos sujeitos sociais

    08/11/2014

     O protesto generalizado varreu as ruas, chegou à depredação de bens públicos e privados, alcançou o clima temido da guerra civil. O sacrifício geral levava à constatação da inviabilidade do modelo vigente de governo, que, espetacularmente ganhou a parada nas eleições. Com efeito, sobram empregos: do escalão técnico superior ao nível modesto do ajudante. Carência de informações? Protesto silencioso? Desobediência civil? O governo está assustado. Como pode? “Nós avançamos um pouco”, esclarece Tasso Genro, comunista, um dos responsáveis pela “criação” do PT e do governo Lula, da tese dos novos sujeitos sociais. Ele, porém, adverte: “São pessoas que jamais aceitarão ficar à margem de um processo de demanda”. Pois está aí a explicação para o tumulto urbano. A reivindicação de hoje, eu advirto e acentuo que é salarial, remuneratória, de condições dignas de trabalho, restauradora de estatutos e direitos sociais entre nós, revogados pelo Mercado Neoliberal que domina o Estado Mínimo. Restam, ainda, aquelas outras pessoas, referidas pela presidente Dilma como as que vivem em situação de humilhante dependência e pobreza, entregam-se a atividades ilegais, porque, produzir rendimentos pessoalmente, não sabem como fazê-lo. Para estes, o seu governo anuncia outro modelo: a “inclusão produtiva”. Ainda bem. Supre a lacuna existente, explicitada e deixada pelo ex-presidente, como a importância de oferecer capacitação e acesso da população para o trabalho – ensinar a pescar, semanticamente traduzido em Pronatec. O que fazer? Católico na infância, e marxista na juventude, a que fui levado pelas noções de base científica dos iluministas sobre a racionalidade da existência, e Gérard Duménil, Jacques Bidet e Alain Touraine, pensadores atuais que identificam novos protagonistas, figurantes e sujeitos no mundo “pós industrial”, entrego-me a reflexões. Não pretendem eles substituir o princípio da luta dos contrários como fator determinante da existência e do desenvolvimento da natureza e da sociedade. Simplesmente estes empurram com a barriga o problema para depois. As descobertas no campo das ciências e da tecnologia, mostram que as mudanças alcançam a vida social. Urge, portanto, conhecermos e nos ajustarmos às novas teses sobre o homem e a organização da sociedade, que assoberbam a nossa existência, inapelavelmente. Sigo nestes caminhos. A infinita varia-bilidade da conduta humana indica esta direção. Sinal dos tempos que mudam, sucedem-se na evidência de uma verdade única, mesmo assim momentâneo, como síntese da realidade. Assim é a vida: já tive um par de esporas de prata que usava quando saía a cavalo para reuniões de muita gente, para namorar. Gastou-as o tempo e o uso. Desapareceram o senhor e a montaria de festa, de trabalho. Hoje, na terceira idade, não sei das butucas, já não uso cavalo, mas quadricíclo, percorrendo roças desertas. Aquele tempo passou. Assim, no processo social de desenvolvimento de suas relações, de natureza múltipla, ocorrem mudanças, e se transformam os sujeitos. Ao capital e ao trabalho, os novos filósofos agregam um terceiro fator de ponderável e inegável importância na determinação do processo econômico-social, de mudanças: os organizadores e gestores privados e públicos. A moderna luta de classes agora é um jogo a três, não mais a dois. Em busca de perpetuação, o sistema capitalista através de seus porta vozes, tenta um equilíbrio, comprovadamente impossível de ser obtido, como o demonstrou Marx, refutando Proudhon na “Miséria da Filosofia”. Mas são circunstâncias e fatores de fato avaliáveis e que determinarão, eventualmente, a sobrevivência do sistema, nas suas crises. Outro autor, também ator na cena, baseia a sua tese no que chama “sociologia da ação”, quando “a sociedade molda o seu futuro através de mecanismos estruturais e das suas próprias lutas sociais”. Este ajudou, ele afirma, no “nascimento” do movimento “solidariedade” na Polônia, o PT no Brasil, que lamentavelmente cederam às pressões do neoliberalismo, num fracasso redundante. Na sua vertente, salvam-se particularismos do funcionamento da sociedade por ele chamada “pós moderna”, que retratam somente momentos, não processos que revelem a realidade dialética de enfrentamento dos contrários. Faltam-lhe as características descritas por Gramci, de construção de uma ética vinda de baixo para se impor pelo consenso às elites dirigentes. Congratulo-me com a presidente Dilma pelo seu programa de inclusão produtiva. À ética de-mocrática que vem de baixo. O Pré-Sal é nosso. Era o que faltava, e mais educação em tempo integral para crianças, e professores treinados, melhor remunerados, como preconizavam Brizolla e Darcy Ribeiro. Depois dos quinze anos, a consciência juvenil a que faltou educação eficiente, volta-se para um comportamento aventuroso e inevitavelmente criminoso. Vira para trás a pala do boné."


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