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  • Ariano Suassuna

    27/07/2014

     

    Sou como Ariano Suassuna paraibano de nascimento, com as almas presas,
    entretanto, ao nativismo e patriotismo pernambucano, que vem desde a expulsão de colonizadores batavos, do fuzilamento de Frei Caneca (que dormiu aqui nesta fazenda), da eleição de Pelópidas Silveira e Miguel Arraes. Bebemos o mesmo elixir, do orgulho e do conhecimento, ministrado na famosa Faculdade de Direito do Recife. O Iluminismo, chegando ao marxismo ditava o nosso comportamento político. Ah! Tempo da juventude, tempo de amor e de guerra. Na festiva vida universitária namorei, meio assustado, confesso, uma colega de faculdade, da família Ferraz que sustentava uma guerra familiar secular com os Novaes, de Floresta do Navio. Morreu muita gente. Ela morava nas imediações do Rosarinho onde passei meses no meu tempo de estudante. Era a circumvizinhança dos Aflitos, Tamarineira, Encruzilhada, Casa Amarela. Ariano sabe desta história. Da guerra, esclareço.
    Ouvi falar, por sinal, que o imortal aqui presente, defendeu ou defende um novo hino para Pernambuco, seria o “Madeira de Lei que cupim não roi”, hino do bloco carnavalesco Madeira do Rosarinho, de autoria do célebre Capiba. Verdade ou não, assino embaixo. Vejam apenas estes versos.
    “Queiram ou não queiram os juízes/ O nosso bloco é de fato campeão/ E se aqui estamos cantando essa canção/ Viemos defender a nossa tradição/ E dizer bem alto que a injustiça dói/ Nós somos madeira de lei que cupim não rói.”
    Uma luta em favor da Justiça, no estilo de Ariano.
    Esta fazenda Acauã, foi adquirida pelo seu pai, então governador do Estado, para aqui viver. Infelizmente uma bala traiçoeira e assassina tirou-lhe a vida. Sei deste acontecimento que ultrapassou o envolvimento familiar, tornou-se fato poli-tico estadual, migrou para a literatura, o que ele explicou à sua maneira, no “O Romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do vai-e-volta.” Uma tradição lusitana-sertaneja-nordestina, que torna este pedaço de chão o “cerne da nacionalidade”. Em 1970 comprei o livro que me agradou logo à primeira vista: o volume era grosso, ficava em pé sem encosto, atendia a recomendação do poeta campinense Adabel Rocha, major da nossa Polícia Militar. Narrativa cíclica, como o “Cem Anos de Solidão” de Garcia Marquez. Lá a Macondo e os Buendia; aqui a Paraíba e os Suassuna.
    Prezado Ariano, o meu propósito, além da participar desta colenda reunião, de comentar este evento glorioso para as cidades de Sousa e Aparecida, é solicitar do Acadêmico Ariano Suassuna, a sua palavra em favor do funcionamento do Centro Cultural do Banco do Nordeste, instalado em Sousa, ameaçado do encerramento de suas atividades, fun-damentais para o desenvolvimento e favorecimento da indústria cultural, do amor à arte na nossa região. Adianto-lhe Ariano, que, esta é com certeza a opinião do seu primo e sócio no criatório de cabras, Manelito Villar, com a qual concordo: o retorno dos lucros do BNB na manutenção desta agência de cultura, é a forma mais compensadora no balanço de suas atividades na região. Promoveu inicialmente com estudos e aporte de recursos financeiros o crescimento da vida comercial e da agropecuária do nosso sertão, e o retorno dos seus lucros aplicados no do Centro Cultural de Sousa, é uma ação meritória em todos os sentidos, permitindo a defesa da nossa tradição e a visão do seu futuro no desenvolvimento eco-nômico e cultural. Uma palavra sua basta, na condição de paraibano, de brasileiro, de integrante da Academia Brasileira de Letras e da congênere paraibana, que eu represento nesta ocasião. Com a sua autorização a levaremos ao conhecimento da presidência do Banco do Nordeste.
    Finalizando este pronunciamento, registro e me associo à oportuna sugestão do senador Cássio Cunha Lima, propondo na tribuna do senado a indicação do nome do paraibano Ariano Suassuna para disputar o prêmio nobel de literatura. Com efeito, o mérito intelectual e criativo de Ariano no campo da literatura, transpõe para o romance e para o teatro a memória efetiva nacional, a partir do Descobrimento, fincada no Nordeste onde aportaram as caravelas de Cabral. Outros momentos representativos do processo civilizatório nacional existiram, como ressalta Darcy Ribeiro, porém a babel sulina confunde, fala de outro mundo, igualmente nacional, reco-nheço, mas sem raízes na tradição ibérica, africana, tupi, tapuia que deu origem ao tipo nacional mesmo.
    No seu ROMANCE DA PEDRA DO REINO E O PRÍNCIPE DO SANGUE DO VAI E VOLTA, Ariano Suassuna revela-se no vivido, defrontando-o à realidade decadente da vida sertaneja, deformada pelo colonialismo cultural e econômico, destruidor e indesejável. E o perpassar dos fatos da política. A sua concepção da vida e da arte é a de que tudo se realiza num mundo miserável, da vida, em face do mundo que é representado na figura de uma onça que via se desfazer “em pó, em cinza, em sarna, o que ainda lhe restava de sua vida demente e sem grandeza”, é revelada por Quaderna que vê os homens como uma raça piolhosa, “raça também sarnenta e sem grandeza, coçando-se idiotamente como um bando de macacos diante da 
    ventania crestadora, enquanto espera a morte, à qual está, de véspera condenada.”

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