Página inicial


  • O ex-futuro de Princesa

    12/05/2014

     O que foi, foi. O que passou já era.” Uma explicação sobre a indiferença em relação ao passado. O presente está na inauguração de novos pontos de bebedeiras ditas “conveniência”, de novos modelos de objetos: roupas, equipamentos eletrônicos, de gatas incrementadas, que bar, cabaré “já era.” Coisa do tempo e do homem. Negar, contestar, quem ousará? Escutei a frase de um boy-vaqueiro, sem gibão, nu da cintura para cima, com a camisa no ombro, numa conversa no balcão da bodega de Severino Loiceiro, no aceiro de uma manga de gado, no corredor da estrada que leva do Riacho do Cabresto para a minha propriedade. Ali estava a verdade nua e crua. O negro velho que também vendia fumo de rolo, café em caroço cru para torrar e pilar, remexia no terreiro de trás as panelas, potes, tigelas, quartinhas de barro, como o café, para queimar no forno afunilado. A freguesia desfrutava a bodegueira. Um ambiente mais do que ótimo, como diz Tião Lucena. Animado pelo atendimento da cobiçada Maria de cabelo comprido descendo nas costas, o rosto lindo na sua juventude requestada, a saia curta, deixando de fora as coxas e a bunda salientes, os peitinhos em pé furando a blusa fina. Uma pequena roda se formara, e comentavam sobre o “bolão” que aconteceria à noite na pista do Catolé, correndo o gado de Chico da Pedra Rachada, o olho na menina. Coisa extra-especial, diziam. Matutei que não compareceria, porque (imaginem!) desde o século retrasado e o passado frequentávamos vaquejada de dia. Agora no claro da noite alumiada pela energia elétrica. Um avanço que o cansaço da minha idade não valorizava, sabem como é. Pois bem até o nome e o sentido social do festejo mudaram. Vaquejada, Bolão. Novos tempos. A vaquejada induz noções de cavalo e gado, coragem e destreza. Quanto ao bolão fala mais de dinheiro, da quadra de dança, de mulheres assanhadas do que no sucesso da pareia vaqueiro-cavalo. Razões tais, porque, falando a linguagem daqui da estrada, constato que a perda de Sousa e Princesa dos seus museus, ambientes de requintada cultura não dá pra perturbar a galera do “levanta o pé do chão”, do “chupa que é de uva”, do “lepo lepo”. O que vale e resta de verdade é o instinto. Recolhi-me em casa, e conversando com o vaqueiro apressado para o “Bolão do Catolé” eu pensava na menina Maria de Severino Loiceiro. Inútil reflexão que daria em nada, como ensina a sentença universal no in pulvis reverterum”. Desculpem o latim. Feliz Dia das Mães para os que ainda as têm, e saudade imorredoura para os que, como eu, as perderam para o Céu que é o lugar delas."


    Voltar