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  • O inverno e a seca

    18/03/2014

     Li, vi e escutei em Zé Euflávio sertanejo impenitente que mora na praia, mas não esquece o sertão do Piancó, Santana de Garrotes principalmente, a sua terra de nascimento. Ele recolhe, junta e publica no seu “afinadíssimo” Giro PB que reserva espaço e trata de assuntos do sertão brabo: a seca, o cangaço que o cercaram na infância, depois taludo e ele não esquece. E é comunista de carteirinha. Mas tem uma qualidade: não se filia aos “pêcês” de hoje que tem latifundiários, oligarcas e capatazes de relho na mão como diretorianos e articuladores da ação política. Falo porque é o que tenho visto na vizinhança e na minha cidade de Sousa, e parece-me que a situação é a mesma em todo pais. Daí que a burguesia dá risadas gostosas! Certo faz ele. Li nele.
    Pois bem. Neste meu turismo pelo interior que ora pratico, satisfaço a minha curiosidade e desfruto o fidelíssimo e probo prazer de reviver o que, malgrado Proust, não se ressuscita com a memória: só a cena viva o reconstitui somenos, o passado. O importante é viver. Pensar é consequência. Como dizia, a minha estrada real é a BR 230 (a estrada de João que estendeu o asfalto e iluminou o escuro da noite plantando postes, estendendo fios para levar sopesada a energia elétrica a rincões – eita diabo!).
    Como dizia, repito outra vez, pois a minha estrada sai de João Pessoa para Sousa e quebro de lado para conhecer os gentis burgos felizes e silenciosos, abusado que estou de Campina, Santa Luzia, Patos, Pombal, etc. Vejam só: visitei Puxinanã, terra de povo bem vestido como os pretendidos habitantes da Bruzundanga de Lima Barreto (seda, veludo e cetim), e a silenciosa e bíblica Areia de Baraúna entregue às reflexões possíveis, escutando mosca voar. Vivalma não vi na rua ao meio dia, e não tinha onde comer um prato nem sanduiche. Só guaraná, coca e biscoito, que descobri a muito custo, abordando um encantado personagem postado na porta fechada de um café, cochilando. Também pudera! Todos dormiam. Mas para encontrar o cão não é preciso sair de casa, diz o ditado: eis que ronca uma moto com dois homens montados. Estremece o chão.
    Assim nesses percalços, na última viagem tomei a esquerda rumo a Teixeira e passei em Taperoá. De boa vontade o jovem Arthur (com agá mesmo) universitário, neto de coronel, dirigia o meu carro. Ele aproveitava o transporte e eu o seu braço na direção. Era dia de feira, muita gente, indaguei e falaram que Balduino Lélis se não era doido parecia: não ligava dinheiro. Arthur falou alto: “Aqui ainda tem matuto, como Coremas no passado!” Uma verdade, porque em Coremas o povo não mora o povo desfruta. Visitem para conhecer. Até o famoso “peixe de Coremas”, disputado no comercio ambulante, nas bancas de feira, vem de fora: de Itaparica, Castanhão, do Maranhão e do Pará, do Pantanal e ninguém fala. Povo hábil, criativo e feliz.
    Estou de viagem marcada para Vista Serrana meio chateado (mudaram o condenatório e imemorial “desterro” para a alegria e orgulho do desfrute da paisagem. E na semana que vem vou descobrir Ave Maria nas perigosas serranias do Aguiar, Conceição, São José de Piranhas, quem sabe da Cachoeira do Urubu. Mas chegarei lá. Pode ter mudado de nome, o que não duvido, mas chegarei lá.
    Em tempo: Sobre Manelito Dantas falarei depois. Não é para esnobar mas já andei por Oropa, França, Baía e nada guardei do que vi, porque desnecessário: tudo está nos livros já lidos e repassados para a TV. Chau, chau.


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