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  • O temperamento dominante de Judivan Cabral

    05/06/2019

    Repito a narrativa e as palavras do próprio Judivan: “Já pensou! Até os beradeiros esqueceram o xote e querem imitar os americanos!”


    Comparecera a um jantar e dança de casamento numa família de correligionários nas serranias do Aguiar. A sua intenção era dançar um chote que não tocavam mais na cidade. A mulherada nova e bonita, todas conhecidas. O sanfoneiro deu uma introdução característica de afinação do instrumento. Ele ficou de olho numa jovem. Nisto um homem alto e forte (ruim para ele que era baixinho) de chapéu cauboi, revolver na cintura, uns trinta anos saltou no meio da sala e gritou: Vamos começar o baile com Pata Pata. O tocador arranhou as teclas da sanfona, o pandeirista sacudiu e bateu no instrumento, o triângulo pinicou e começou o berreiro: “Aí Pata Pata... Aí Pata Pata…” 


    Ele estava acostumado a ter adivinhados os seus pensamentos. Mas na verdade, faltou-lhe coragem, para controlar aquele “desespero dos jovens”. Sem a solenidade costumeira de beija-mão, despediu-se dos noivos alegando compromissos e voltou para Piancó.


    “Voce me conhece, e sabe que ordem no Aguiar só a minha...não existe outra nem para trocar uma bicicleta.”
    Sempre admirei aquelas pessoas que se destacam e são admiradas e tratadas respeitosamente, logo chegam em qualquer ambiente. O coronel-bacharel-deputado Judivan Cabral era um caso especial. Os coroneis Zé Pereira, Américo Maia, Manoel Gonçalves e outros afeitos ao cangaço, não chegaram a autoridade incontestável, ao arbítrio absoluto do Doutor Judivan. Conheço a crônica de todos. Com o seu terno de corte moderno e tecido importado, o perfume rescendia quando ele chegava. O seu temperamento afirmativo e jovial, silenciava críticas e pilhérias, que ele carrancudo, se reservava o direito de abrir espaço para galhofas. 


    Solene, com os passos medidos, frequentemente Judivan adentrava o papo diário no cartório do ex- deputado Chico Souto, o “senado” dos idosos aposentados, sem mandato: o ex-governador Pedro Gondim, eu, José Cavalcanti, uma galera descontraída sem o percalço das audiências e de negócios. Discreto, o bravo representante do Aguiar com um aceno cumprimentava todos e em pé mesmo segurava ansioso o telefone. Cochichava palavras. A parafina lustrava o paletó e a calça de diagonal irlandês branco endurecidos e bem passados. O nosso Judi, como os íntimos o tratavam, Waldir dos Santos Lima um deles, da nobreza brejeira, também elegante e impetuoso, participava esporadicamente dessas conversas ocasionais. Era do time de Judivan, sempre assediados respeitosamente, devo esclarecer, com pedidos de recomendações junto a chefias no expediente de secretarias do governo estadual, algumas vezes por finórios agiotas da porta da Assembleia. E de promessas também de reuniões para decisões relevantes no mundo político. Uma sumidade, um crânio o filho do chefe político Joaquim Bento, na definição do eminente pifeiro e freguês dos cabarés de Patos o rábula Fandinga. Um enigma indecifrável para os concorrentes que o assediavam. 


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